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Reinaldo Azevedo

2- FOSSE EU HADDAD, FARIA O SEGUINTE: continuaria colado a Lula e ignoraria, no 1º turno, adversários; prioridade é herdar votos

Reinaldo Azevedo

15/09/2018 20h46

Fernando Haddad e seu inspirador: terá de tomar cuidado para não ser visto como mero títere

ATENÇÃO, LEITOR! ESTE TEXTO PRECISA SER LIDO COLOCANDO-SE NA POSIÇÃO DO CANDIDATO EM QUESTÃO. NÃO É UM JUÍZO DE VALOR DO AUTOR.

Se eu fosse Fernando Haddad (PT), dados os números do Datafolha, começaria por constatar o óbvio: a transferência de votos que já pertenceram a Lula está em curso. E de forma talvez mais acelerada do que esperavam os adversários e até os petistas. Mas ainda muito longe das marcas do antecessor na chapa. Em três semanas, mais do que triplicou o percentual — de 4% para 13% — dos que dizem que votarão no petista. Em quatro dias, um salto de quatro pontos: tinha 9% no dia 10. Três semanas foram suficientes para levar o candidato para o segundo lugar, em empate numérico com o pedetista Ciro Gomes.

Há outras três semanas até o primeiro turno. Em lugar de Haddad, ignoraria os adversários à direita e à esquerda para centrar esforços na ampliação da transferência. O potencial ainda é enorme. Como se sabe, Lula estava na liderança em todas as regiões, exceção feita à Sul, onde havia empate técnico com Bolsonaro: 28% a 25% para o candidato do PSL. Nas demais, no confronto entre ambos, eram estes o resultado no dia 22 de agosto: Nordeste, 59% a 11%; Sudeste, 31% a 20%; Norte, 45% a 20%, e Centro Oeste, 30% a 26% (para todos os efeitos, empate técnico também). Comparem com os números de Haddad hoje:
Nordeste: 20%;
Sudeste: 10%;
Norte: 13%;
Sul: 8%;
Centro-Oeste: 11%.

Seria perda de energia e de foco abrir várias frentes de batalha ao mesmo tempo. Ciro Gomes (PDT), é fato, tem presença forte no Nordeste: oscilou de 20% para 18% em quatro dias, contra os 20% de Haddad — eram apenas 13% no dia 10. Bolsonaro está em empate técnico com eles: de 14% há quatro dias para 17%. O único, por óbvio, que pode falar como o herdeiro de Lula na região é Haddad. Os outros podem até tentar desconstruí-lo. A ele, agora, cabe colar-se no padrinho. E só.

O Sudeste ainda é um ponto fraco de Haddad, que deveria preocupá-lo: na região com o maior eleitorado do país, ele marca apenas 10%. É bem verdade que é o dobro do que tinha há três semanas: meros 5%. Está a uma distância enorme de Bolsonaro, que cresceu seis pontos desde 22 de agosto: de 22% para 28%. Ocorre que esse é o território do antipetismo. Haddad nada tem a fazer a respeito. Quem tem de lidar com esse avanço do candidato do PSL é Geraldo Alckmin.

O que surpreende o PT é o desempenho de Ciro Gomes na região, o adversário que Haddad tem à esquerda e com quem está empatado: o candidato do PDT marca 12% na região, em empate técnico com o petista (10%) e com o próprio Alckmin (11%). Vale a pena bater em Ciro para assegurar ao menos o segundo lugar na disputa do primeiro turno? Acho que não.

Se o PT disputar o segundo turno, certamente não será contra o PDT, e Ciro passa a ser um aliado importante contra Bolsonaro. O PT dispõe ainda do "fator Lula", tem um tempo razoável na propaganda de rádio e TV e conta com uma estrutura partidária gigantesca quando comparada à de seu, por ora, adversários de esquerda.

Risco
O que fortalece Haddad pode também pôr tudo a perder se a administração do remédio no primeiro turno virar um veneno. Uma coisa é colar em Lula, lembrar que ele seria o vencedor das eleições, acusar o que o PT considera injustiça, apontar as supostas articulações para tirá-lo da disputa etc… Tudo isso é do jogo político.

O candidato tem de tomar cuidado, no entanto, para não ser visto como mero boneco de ventríloquo, como um títere manipulado por Lula, sem vontade própria. Essa é a voz corrente, como se sabe, no eleitorado antipetista. A versão não pode ultrapassar os muros desse antipetismo militante.

Para ler "Se eu fosse Alckmin", clique aqui

Para ler "Se eu fosse Ciro", clique aqui

Para ler "Se eu fosse Bolsonaro", clique aqui

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.