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Reinaldo Azevedo

A distopia que Lula ajudou a criar condena sem provas até um... Lula. Mas o petista evidencia que não aprendeu nada

Reinaldo Azevedo

21/02/2018 16h41

Todos conhecem as minhas posições garantistas em direito. Elas têm gerado, inclusive, algumas confusões e contrariedades. Falsos liberais — na verdade, direitistas rancorosos — ficam furiosos a cada vez que afirmo que, no caso do apartamento de Guarujá, Lula foi condenado sem provas. E foi. É evidente que, estivesse eu a tratar apenas de uma questão de merecimento, cumpriria escrever que Lula não merece que eu me indisponha com quem quer que seja na defesa de um direito seu. A razão é simples: ele próprio, Lula, nunca hesitou em subir em palanques reais e virtuais e mandar cortar a cabeça do adversário — ou fazê-lo ele mesmo. Ainda agora, lá está ele a acusar a intervenção federal no Rio de mera ação eleitoreira. Se formos fazer um levantamento dos juízos peremptórios — e condenatórios — do chefão petista sobre seus inimigos, veremos que ele jamais concedeu a seus alvos o direito de defesa.

"Ah, Reinaldo, mas um processo judicial é diferente de uma luta política". Sim, é diferente. Isso não quer dizer que esta não possa também enlamear a reputação de pessoas decentes e honestas. E Lula, vamos convir, nunca hesitou em acionar a guilhotina. Em parte, ele paga, sim, com a própria sorte por boa parte da cultura que ajudou a engendrar. É evidente que tenho clareza disso. Mas faço o que faço e afirmo o que afirmo não pensando nos "direitos de Lula" em particular, mas nos direitos de todos no geral. Ou não se mostra evidente, a esta altura, que os métodos empregados contra o petista quase derrubaram um presidente da República, o que teria jogado o país no caos? As lambanças de Marcelo Miller, Joesley Batista, Rodrigo Janot, Edson Fachin e companhia são o estado da arte das heterodoxias da Lava Jato, que chegaram ao Supremo. De sorte que, já hoje, a divisa no Brasil poderia ser a seguinte: se o que está escrito nas normas legais não vale, então tudo é permitido.

E não! Não esperei, para reagir, que a sanha persecutória e ilegalista atingisse os não-esquerdistas. No terceiro mês das Lava Jato, eu já alertava para o "Padrão Savonarola" dos senhores procuradores da República Particular que Têm em Mente.

Quando vejo as ligeirezas de que Lula é capaz mesmo estando na reta da cadeia — ou daqui a pouco ou mais tarde, depois do trânsito em julgado —, constato: ele é vítima de uma concepção de mundo que foi plasmada por seu partido. A rigor, não tem do que reclamar.

Eu reclamo, sim, porque o mundo que ele tem como utopia não me interessa. Essa distopia acaba por condenar sem provas até um Lula…

Com um pouco de esforço e alguma inteligência, não é tão difícil de entender.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.