Topo

Reinaldo Azevedo

A trilha de MPF, PF e setores do Judiciário para demonizar o governo Temer é a mesma na qual avança o populismo, pouco importa o viés

Reinaldo Azevedo

11/06/2018 16h57

 

Presidente Temer: sem um minuto de trégua. MPF, PF e setores do Judiciário pavimentaram o caminho para os populismos opostos e combinados

 

José Sarney nos deixou às portas da hiperinflação. 68% de rejeição. Fernando Collor conduziu o país ao desastre econômico e sequestrou a poupança dos bravos. Iguais 68% de repúdio. Dilma quebrou o país, conduzindo-o, adicionalmente, à maior recessão de sua história: 71% a consideravam ruim e péssima. Michel Temer chegou ao poder no país que havia encolhido 3,6% no ano anterior. Deve crescer algo em torno de 2% neste ano. A Inflação passava dos 10%. Está abaixo de 3%. A taxa Selic estava em 14,25%; agora, em 6,5%. São os juros nominais e reais mais baixos da história. E, no entanto, segundo o Datafolha, sua rejeição é recorde: 82%.

"Ah, Reinaldo, o povão não lida com macroeconomia. Como você mesmo diz, o que importa é a microeconomia da geladeira". Pois que seja assim. A vida da larga maioria das pessoas era francamente pior nesses governos que citei. Pra começo de conversa, nos governos Sarney e Collor, inexistia um programa compensatório como o Bolsa Família, por exemplo. Bolsa Família que reuniu programas sociais que foram lançados por… Fernando Henrique Cardoso, é bom que se destaque. Um decreto de Lula os unificou a todos sob um novo nome fantasia. E, com efeito, justiça se faça, passou a atender o dobro de pessoas no segundo governo Lula. A iniciativas do tucano chegavam a 5 milhões de famílias. Lula elevou tal número para 11 milhões e criou uma máquina eleitoreira com o programa. Sim, ele era necessário. Desnecessária era a exploração política vigarista.

Vamos voltar a Temer. Segundo o Datafolha, 72% das pessoas dizem que a economia piorou nos últimos meses. Sim, piorou. Só não sei se essa piora efetivamente já chegou à vida das pessoas. Acho que, em regra, ainda não. A desesperança se tornou mais aguda.

Uma coisa é certa: nunca se viu um governo sob tal cerco como o que aí está. Desde a patuscada protagonizada pela holding JJ & F — Janot, Joesley e Fachin —, em maio do ano passado, Temer não teve um só minuto de trégua.  No começo de sua gestão, Temer era rejeitado por 31%. Fazia sentido. Perto de um terço do eleitorado tem vários graus de simpatia pelo PT e aderna para a esquerda.

A esquerda se encarregou de acusar o governo de desmontar programas sociais — o que nunca foi verdade — ou de cortar verbas para a área, outra mentira. A impopularidade cresceu. O MPF e a PF se dedicaram à sanha algo enlouquecida para desgastar o governo. Até que se chegou à tramoia de maio do ano passado. As gravações em que Joesley Batista confessa sem querer a urdidura armada por Rodrigo Janot, com a participação ativa de Edson Fachin e a conivência de Cármen Lúcia, são eloquentes o bastante. O objetivo era derrubar Temer.

Antes que aquela barbaridade fosse perpetrada, eu já advertira para aquele que seria o efeito prático do esforço do MPF de demonstrar que todos os políticos são iguais. Adverti: vão ressuscitar Lula. E ressuscitaram. Vão ressuscitar o PT. E ressuscitaram. E o Ministério Público fez tudo isso com a ajuda da direita xucra.

O caso Joesley — com a gravação daquilo que Temer NÃO FALOU — elevou sua impopularidade para 67%. Bem, aí o céu era o limite. Vieram as duas denúncias e os outros inquéritos, num cerco, reitero, inédito. Com o beneplácito da PGR e de Roberto Barroso e Fachin, Temer não teve direito nem às prerrogativas do Artigo 86 da Constituição. Está sendo escancaradamente investigado, no curso do mandato, por atos anteriores ao dito-cujo. E está a menos de seis meses do fim do mandato.

Esse governo traz outras conquistas importantes: reforma trabalhista, mudança dos marcos do pré-sal, reforma da educação, lei de responsabilidade das estatais, aprovação do teto de gastos. E vai por aí. Não! Tudo inútil.

A esquerda percebeu a tempo; os idiotas não! Demonizar Temer era a vereda que conduziria o país à ressuscitação da esquerda. E assim aconteceu. O potencial de transferência de voto de Lula, o presidiário, continua em 47%: 30% só votariam em alguém que ele indicasse; 17%  poderiam fazê-lo. Mas só 10% escolheriam com certeza alguém apontado por FHC. Poderiam fazê-lo 22%.

Ok. É a voz do povo. Cumpra-se. Mas me parece que algo de errado há na equação. E mesmo nós, da imprensa, temos de nos perguntar, como instituição da sociedade civil, se estamos fazendo um bom trabalho…

Bem, eis aí. MPF, PF e setores do Judiciário foram bem-sucedidos em destruir a reputação do governo, de cujas óbvias qualidades se faz tábula rasa em nome do combate à corrupção. Se assim é, se tudo se iguala no esgoto, então os que conseguem falar a linguagem do populismo rasteiro, de esquerda ou de direita, acabam granjeando simpatias.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.