As coisas muito normais e corriqueiras na entrevista concedida por Sérgio Moro
Quem quiser achar normal, bem, que ache e faça bom proveito. Fico imaginando o que aconteceria se um juiz nos EUA, Grã-Bretanha ou Alemanha concedesse uma entrevista no dia em que o estamento ao qual ele pertence — no caso, a Justiça Federal — confirma a condenação de seu, digamos, condenado mais famoso… Vamos seguir.
Vamos botar os verbos no modo indicativo. O juiz em questão não se limita a fazer digressões sobre o processo que conduziu a sua presa à condenação, sempre deixando claro que não pretende fazê-lo. Ele também se comporta como ombudsman do processo político, da legislação em curso e dos Três Poderes da República. Achando que isso é pouco, cita nominalmente ministros da corte máxima do país, patrulhando seus respectivos votos. Mais: ele o faz nove dias antes de sessão dessa corte que tomará uma decisão crucial para a vitória de suas teses e o destino de sua presa mais famosa.
Mas se acrescente a isso um outro ingrediente: a, digamos, exigência que esse juiz faz à Corte nega a letra explícita da Constituição, o que pouco gente se digna a apontar porque, afinal, não pega bem a suspeita de que alguém possa ser contrário à sua cruzada. Sabem como é… Não é prudente contestar paladinos da moralidade.
Esse juiz não para por aí. Ele e seus colegas de toga, além dos membros do Ministério Público, outro estamento com o qual opera, recebem uma coisa chamado "auxílio-moradia". É uma mamata reservada a nababos. O magistrado não apenas justifica o mimo como diz abertamente que o pagamento está servindo como reajuste salarial. A lei que se dane. E ainda reclama que a imprensa não trata direito do assunto.
Indagado sobre uma denúncia feita por um investigado que atinge uma pessoa de seu círculo muito próximo de relações, ele descarta a acusação de saída sob o pretexto de que o acusador, afinal, é um investigado, a quem se imputam vários crimes, porém foragido.
Aí resta, então, a constatação de que se deve dar crédito à palavra de bandidos e investigados quando:
a: eles acusam quem a operação quer que acusem;
b: estão em prisão preventiva sem prazo definido.
Corolário: um acusador preso e sujeito às vontades do agente do Estado certamente faz acusações mais verdadeiras do que alguém que não pode ser alcançado pelo braço repressivo do Estado, não é mesmo?
Coisas assim aconteceriam debaixo do nariz de sistemas democráticos como EUA, Grã-Bretanha ou Alemanha, e, claro!, setores da própria imprensa sairiam por aí a gritar: "Estão querendo acabar com a operação"… Será?
Os tempos não são normais. E por isso as eleições podem nos conduzir à beira do abismo.
Por que falo? Porque o segredo de aborrecer é dizer tudo.