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Reinaldo Azevedo

Rabello de Castro, Presidente do BNDES, não aprovou fundador para comando da JBS

Reinaldo Azevedo

18/09/2017 14h56

José Batista Sobrinho (reprodução do Youtube), pai de Joesley e Wesley Batista

Na Folha:

O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, disse à Folha que não aprovou a escolha de José Batista Sobrinho para a diretoria executiva da JBS e que a conselheira do banco votou de forma "autônoma", sem consultar o comando da instituição.

Ele afirmou que estuda as medidas jurídicas cabíveis e criticou a reunião do colegiado, que teria ocorrido "na calada da noite". "A administração da JBS está escrevendo um compêndio completo de má governança", disse Rabello de Castro.

A reunião extraordinária do conselho da JBS, que definiu a substituição de Wesley Batista, preso no último dia 13, começou às 19 horas de sábado (16) e durou até a 1h deste domingo (17).

Batista Sobrinho, pai de Wesley e fundador do grupo, foi conduzido ao cargo por unanimidade, com o voto inclusive da conselheira do BNDES, a advogada Claudia Santos.

Nesta segunda-feira (18), o BNDES deve anunciar seus novos representantes no conselho da JBS. Um deles será Cledorvino Belini, ex-presidente da Fiat. O banco tem direito a duas cadeiras no colegiado, mas uma delas está vaga desde que o conselheiro anterior renunciou.

Na reunião que definiu a sucessão de Wesley Batista, a família chegou a propor o nome do filho do empresário, Wesley Batista Filho, mas houve forte resistência da representante do BNDES. O herdeiro acabou se tornando diretor estatutário e fará parte de um grupo de executivos que vai assessorar o avô.

Segundo pessoas que acompanharam as discussões, Claudia Santos argumentou na reunião do conselho que Batista Filho seria visto pelo mercado como uma solução definitiva e que seria criticado por sua pouca idade, apesar de comandar a operação americana de carne bovina.

A família Batista sugeriu então o nome de José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, e o presidente do conselho, Tarek Farahat, disse que a JBS contrataria uma consultoria para preparar a sucessão, conforme vinha sendo solicitado pelo BNDES.

Para surpresa dos assessores dos Batistas, a representante do BNDES aceitou. Santos, que já havia apresentado sua carta de demissão ao banco na semana passada, disse aos diretores do BNDES no domingo (17) que avaliou ser a melhor forma de evitar que a empresa seguisse acéfala após a prisão de Wesley.

Com 21% de participação, o BNDES vem pressionando pela saída dos Batistas do comando desde a delação premiada dos irmãos Joesley e Wesley. Joesley Batista acusou o presidente Michel Temer de corrupção.

A JBS também informou que vai procurar um diretor financeiro -outra demanda do BNDES. Segundo nota emitida pela companhia neste domingo, seria uma forma de "fortalecer a governança".

A manutenção dos Batistas no comando da JBS pode ser mal recebida pelos investidores e pelos bancos credores, que preferiam a indicação de um executivo profissional para blindar a empresa da prisão de Joesley e Wesley.

A expectativa da família é que a criação do comitê de executivos para assessorar Zé Mineiro acalme o mercado. Além de Wesley Filho, o time será composto por Gilberto Tomazoni, presidente das operações globais da JBS, e André Nogueira, presidente da empresa nos EUA.

O maior receio dos bancos credores é que a crise atrapalhe as vendas de outros ativos do grupo, comprometendo a entrada de recursos para pagar dívidas. Os negócios estão atrelados ao acordo de leniência da holding J&F, que congrega os negócios da família, com o Ministério Público.

Em nota, a JBS informou que a reunião do conselho de administração foi convocada dois dias antes. A empresa disse ainda que o momento é de "equilíbrio, de união e de pensar no melhor interesse" da companhia e de seus acionistas.

Leia a íntegra da nota da JBS

Em relação às matérias veiculadas pela imprensa no dia de hoje, 18.09.2017, a JBS esclarece que:

1. Tendo em vista os fatos ocorridos na quarta-feira, 13.09.2017, membros do Conselho de Administração reuniram-se na mesma data com o objetivo de obter informações e ponderar sobre a tomada de providências. Desde então, a administração da empresa e assessores mantiveram-se integralmente à disposição para apoiar os conselheiros de administração, que estiveram dedicados a avaliar os cenários e as alternativas que melhor atenderiam ao interesse da JBS e seus acionistas.

2. Na quinta-feira, 14.09.2017, foi convocada reunião do Conselho de Administração para a data de 16.09.2017. A reunião realizou-se conforme convocação, a partir das 19 horas, com a presença da totalidade dos conselheiros de administração que, no exercício de sua competência, entre outras providências, elegeram o novo diretor-presidente da Companhia. A presença da totalidade dos membros do Conselho de Administração tornaria dispensável, até mesmo, a convocação prévia e a indicação de ordem do dia, como previsto no art. 18 do Estatuto Social da Companhia.

3. Conforme Fato Relevante divulgado pela Companhia na data de ontem, os conselheiros agiram no cumprimento de seus deveres fiduciários e, por unanimidade, tomaram a decisão que lhes pareceu ser a melhor para a Companhia, seus acionistas, colaboradores e demais stakeholders.

4. O momento atual é de equilíbrio, de união e de pensar no melhor interesse da JBS e de seus acionistas, tendo assim agido o Conselho de Administração, em estrita consonância com a lei e o Estatuto Social da Companhia.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.