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Reinaldo Azevedo

Bolsonaro defende fuzilar “petralhada”, e o PT entra com notícia-crime no STF. Sim, eu criei a palavra, mas fuzilo apenas burrice militonta

Reinaldo Azevedo

03/09/2018 22h20

Em evento político no Acre, o candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, afirmou a seguinte delicadeza:
"Vamos fuzilar a petralhada toda aqui do Acre. Vamos botar esses picaretas pra correr do Acre. Já que eles gostam tanto da Venezuela, essa turma tem que ir pra lá. Só que lá não tem nem mortadela galera, vão ter que comer é capim mesmo".

O PT entrou com uma notícia-crime no STF contra o candidato, que é deputado federal. Nela, escreve:
"Por mera divergência política, entende o candidato ser necessário o fuzilamento de toda uma parcela da população, o que representa, a um só tempo, os cometimentos dos crimes de ameaça e incitação ao crime".

Pois é…

Indagado a respeito, Bolsonaro repetiu o que lhe soprou aos ouvidos algum assessor, que domina rudimentos da hipérbole, faltando-lhe, no entanto, a sutileza necessária para as metáforas.  Respondeu:
"Existe a figura de linguagem, hipérbole. Foi usado (sic). Nada mais além disso. […] Qual o problema? Ninguém quer matar ninguém não".

Pois é… É pouco provável que a questão avance, não é? E esse é o problema da incivilidade. Ela torna o mundo pior mesmo quando não há intenção ou prática criminosa.

É provável, sim, que Bolsonaro tenha empregado a palavra "fuzilar" em sentido conotativo. Não creio que tenha confessado em público a decisão de matar todos os petistas com fuzil ou outra arma de fogo.

O problema é outro. Por que, ao escolher uma metáfora de caráter hiperbólico, ele parte logo para o fuzilamento? Poderia ser um não menos agressivo, do ponto de vista político, "varrer a petralhada"; "limpar o Acre da petralhada", "esmagar a petralhada"…? Notem que este último verbo também poderia ser associado à morte, embora se use com frequência por aí: "Fulano esmagou sicrano nas urnas". Por outro lado, por conflitos muito menores, pode-se "fuzilar com o olhar"…

O problema é que esse Bolsonaro que fala essas coisas tem como uma das propostas de honra de sua campanha o armamento da população — proposta que é liofilizada e transformada em "direito de ter uma arma" — o que a lei já garante —, "direito de se defender" (idem) ou "revisão do Estatuto do Desarmamento".

Há uma diferença, claro!,  entre quem até pode fazer da arma uma metáfora e quem faz até da metáfora uma arma. Obviamente, não é uma aposta na tolerância, mas não creio que se trate de um crime.

"Petralhada"
Sim, inventei o termo "petralha", "petralhada" e afins. Não emprego metáforas de extermínio ou morte contra ninguém. Como o termo é meu, também me cabe a definição de sentido: trata-se de uma junção de "petista" com "metralha" — dos Irmãos Metralhas — para designar o petista que justifica o roubo de dinheiro público em nome de um projeto de poder. Penso de gente assim o que sempre pensei. Minha oposição aos "petralhas" é ainda mais convicta hoje do que antes. Mas nunca flertei, e não flertarei, sob nenhuma hipótese, com fascistoides de direita. Nem sob o pretexto de combater os "petralhas". Se os fascitoides de esquerda ocuparam mais o meu tempo, é porque eles estavam no poder.

Não sou como certos empresários brasileiros que são "liberais" até a página 12. Mas, se preciso, funcionam também no modo "fascistoide". Eu não tenho essa função.

"Ah, mas você criou a pecha…" Isso tudo é bobagem! Os esquerdistas só não trataram seus adversários ideológicos — eu inclusive — de santos. Perseguiram, pediram cabeças, submeteram oponentes ao pau de arara das redes sociais — tudo o que a extrema-direita aprendeu a fazer com a maestria dos estúpidos. Nada disso me serve. No auge dos embates, essa nunca foi a minha praia. Os petralhas nunca me serviram, entre outras razões, por seu pouco apreço ao Estado de Direito, à ordem legal democraticamente pactuada. Isso me colocou em rota de colisão com eles. E isso me põe em rota de colisão com a banda fanática e autoritária da Lava Jato. Também esta pediu a minha cabeça a patrões. Como o PT.

Repudio é o fascismo, tenha ele a coloração que for.

Não! O petralhismo não é uma força com a qual eu me aliaria contra o bolsonarismo. Não! O bolsonarismo não é uma força com a qual eu me aliaria contra o petralhismo.

"Olhem o Reinaldo, querendo o descompromisso…"

Bem, digam alguém aí que compre mais brigas do que este escriba. Se preciso, até com seus próprios leitores, ouvintes ou telespectadores.

Ademais, há dois anos, fiz a primeira advertência, alertando para o fato de que a Lava Jato e a direita xucra acabariam ressuscitando o PT.

E ressuscitaram.

Sou (des)armamentista. E fuzilo só a burrice militonta

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.