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Reinaldo Azevedo

Ciro do PT 1: Pedetista complementa adesão à agenda petista: promete reverter marco do pré-sal e critica o Ministério Público e o Judiciário

Reinaldo Azevedo

23/05/2018 08h14

Lula e Ciro: já não há divergência entre os dois. O programa de Ciro é o de Lula; talvez este fosse até mais prudente…

Já afirmei aqui que poucos se deram conta de que Ciro Gomes já é o candidato do PT à eleição presidencial de 2018. O entendimento deve ter sido celebrado com o próprio Lula, no encontro que ambos tiveram na cadeia. Se o pré-candidato do PDT já havia deixado isso claro na sabatina promovida por Folha-UOL-SBT, isso se mostrou de forma ainda mais escancarada no discurso que fez nesta terça na XXI Marcha dos Prefeitos. Ciro agregou elementos novos — todos identificados com o petismo — à pauta que havia esboçado naquela conversa.

Só para lembrar: na tal sabatina, havia afirmado que, se eleito, porá fim ao teto de gastos e reverterá a reforma trabalhista. Também deixou claro não ver a necessidade de uma reforma da Previdência. Segundo ele, o sistema como um todo ate dá um "tiquinho" de superávit. Afinou também o seu vocabulário com o petismo influente: tais medidas fariam parte do que chamou de "agenda golpista".

Nesta terça, ele juntou outros itens da pauta dos companheiros à sua plataforma conhecida, que foi reiterada. Deixou claro que pretende ainda fazer o marco regulatório do pré-sal voltar a seu padrão anterior, criticou o fato de o preço dos combustíveis variar de acordo o preço do petróleo no mercado internacional e, ora vejam, fez críticas ao Ministério Público e ao Poder Judiciário. E críticas, note-se, que, em si, estão corretas. A questão é saber a que propósito se destinam.

Afirmou o pré-candidato do PDT:
"Hoje, o Congresso Nacional é desmoralizado; o poder federal, desmoralizado; a autoridade política, desmoralizada. Há uma invasão absolutamente intolerável, que tem de ser posto um fim, de atribuições democráticas por poderes que não são votados. O Ministério Público quer governar no lugar de todo mundo; o Judiciário quer governar no lugar de todo mundo".

Sim, senhores, eu concordo com essa afirmação. Ela deveria, diga-se, estar na boca também dos candidatos que estão à direita de Ciro e do petismo… Mas, ora vejam!, não está. Ao contrário: expoentes do centro, da centro-direita, dos liberais — ou, para ser genérico, do antiesquerdismo — prestam é reverência  essas forças, a exemplo do que fez João Doria, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, que comandou uma homenagem a Sergio Moro em Nova York por intermédio do Lide, uma associação que reúne empresários de diversos ramos.

E, mais uma vez, o candidato do PDT, que já fala como quem incorporou a agenda petista, mandou ver:
"'Eu eleito, é a certeza de revogação dessa agenda. Por exemplo, será revogada a entrega do petróleo do pré-sal aos estrangeiros. Será revogada toda e qualquer tentativa de internacionalização da Embraer. Será proposta a revogação, e substituída por uma nova regra mais moderna e minimamente séria, dessa selvageria a que eles deram o nome de reforma trabalhista".

E foi adiante:
"Nos seis primeiros meses, vou precisar que as reuniões com prefeitos sejam quinzenais. Pretendo propor um novo projeto nacional de desenvolvimento que vai começar por enfrentar três gravíssimos obstáculos: o explosivo endividamento das famílias, a dependência de importados e o colapso fiscal por conta da Emenda Constitucional 95″.

Dizer o quê? O colapso fiscal deriva do fato de o governo gastar mais do que arrecada, não de haver um teto de gastos. Assim, a Emenda Constitucional 95 só existe porque os gastos estavam fora do controle; trata-se de uma medida de correão do mal, não é o mal. E como se Ciro dissesse que um paciente infectado por bactérias potencialmente letais deve se manter longe dos antibióticos porque estes sempre provocam efeitos colaterais. De resto, não tenho a menor ideia do que ele chama de "dependência de importados", mas sei o que alguns espertos costumam recomendar quando constatam esse suposto mal: uma política de substituição de importações, que vira o paraíso do nativismo empresarial incompetente.

O pré-candidato do PDT aproveitou ainda para atacar a pré-candidatura de Henrique Meirelles pelo MDB. Segundo disse, o ex-ministro está comprometendo a sua biografia o se apresentar como o porta-voz de uma agenda "antipovo, antipobre e antinacional imposta por seu chefe". Fazia, obviamente, uma referência ao presidente Michel Temer. Ou por outra: Ciro escolheu até o alvo preferencial do PT na disputa: Temer.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.