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Reinaldo Azevedo

Clipping/O Globo 5 — Os servidores, Marco Aurélio, Lula e dois truques vulgares

Reinaldo Azevedo

23/02/2017 22h27

Prestem atenção a trechos da reportagem de Adriana Vasconcelos, publicada nesta segunda, que seguem em itálico. Volto em seguida: "O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio de Mello, deixou claro ontem que é contra o aumento do Judiciário, assim como já havia se posicionado em relação ao reajuste que o Executivo pretende conceder ao funcionalismo público em período pré-eleitoral. Apesar das advertências de Marco Aurélio — que já avisou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá ser multado ou enfrentar processo por abuso de poder econômico caso o governo leve adiante essa idéia —, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, editará quatro medidas provisórias concedendo todos os reajustes programados para o funcionalismo. 'Não concordei com aumento nenhum, e não concordaria nem mesmo com meu próprio aumento — avisou Marco Aurélio.' Segundo o ministro, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ellen Gracie, fez apenas um comunicado na sessão administrativa da última quinta-feira explicando que havia fechado um acordo com o Ministério do Planejamento sobre o plano de carreira do Judiciário, que prevê aumentos de 0,9% a 51,5%. Os reajustes, no entanto, serão implantados em seis parcelas até dezembro de 2008." Trata-se, sob muitos aspectos, da questão mais importante nos jornais desta segunda. Lula já deixou claro que pretende comprar briga com o Judiciário, transgredir a lei e conceder o reajuste. Afinal, ele se torna o portador de uma "causa". Mais: mesmo depois das reformas, os servidores continuam a ser uma espécie de reserva de mercado da CUT — as divergências são sempre pela esquerda. Mas o mais grave de tudo é a plantação, que Marco Aurélio desfaz, de que ele estaria contra o aumento para os servidores, mas a favor do reajuste para os juízes. Não é. Trata-se de um plano de carreira que se estende até 2008 e que nada tem a ver com o populismo eleitoral de Lula, aquele que Paulo Bernardo está disposto a levar no muque. Imaginem Marco Aurélio multando Lula porque o Apedeuta quer dar aumento de salário. É um dos exemplos de como o populismo rasteiro agride as instituições: se o governante faz o que quer, a lei é esbulhada. Se é proibido de fazê-lo, cumpre-se o texto, mas ele cai em desprestígio, e o Demiurgo igualmente obtém vantagens eleitorais.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.