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Reinaldo Azevedo

Consta que, desta feita, Barroso, o especialista maior em direito criativo, pretende obedecer à lei; petistas torcem para que faça o contrário

Reinaldo Azevedo

17/08/2018 07h50

Roberto Barroso: ministro é um verdadeiro mágico do direito. Com ele, leis somem e surgem por prestidigitação (Jorge William/Agência O Globo)

Rosa Weber, presidente do TSE, definiu que será mesmo Roberto Barroso o relator das arguições de inelegibilidades apresentadas depois que o nome de Lula já constava no registro do tribunal como o candidato oficial do PT. Incluindo a de Dodge, são quatro petições. Duas outras, apresentadas por candidatos a deputado federal que colaram em Lula para fazer campanha, foram consideradas ações avulsas e ficam com o ministro Admar Gonzaga, caso ele próprio não decidida abrir mão delas, o que, entendo, deve fazer.

Barroso é um notório heterodoxo. Não tem dificuldade nenhuma em jogar fora o texto constitucional em favor de uma interpretação exótica. Já o fez muitas vezes. O homem chegou a rasgar o Código Penal para, digamos assim, constitucionalizar no tapetão o aborto. Esse é apenas um de seus exercícios de prestidigitação legal. Ele dá sumiço a fundamentos ou os faz aparecer com a habilidade com que um mágico tira coelhos da cartola ou esconde pombas. Não lhe seria difícil usar sua retórica insinuante para atender aos apelos de Raquel Dodge.

Consta, no entanto, que, desta feita, não o fará e preferirá seguir os trâmites legais. Quando Barroso está na área, no entanto, cumpre ficar atento. Ele é, atualmente, o maior especialista brasileiro em direito criativo. Em parceria com o Ministério Público Federal, poder operar prodígios.

É claro que Lula sabe que vai perder a peleja por sete a zero. Não há a menor possibilidade de ser diferente. Mas, agora, a estratégia escolhida tem de ser levada a efeito até o fim. Se Barroso não optar por rasgar a lei, o partido arrastará a candidatura até o limite. Mas que fique claro: o melhor cenário para o PT, a partir de agora, seria Barroso ceder ao canto dos radicais. Interviria com mão se ferro para antecipar a inelegibilidade do ex-presidente, daria ao partido a vantagem do discurso da vítima, e a legenda já começaria a trabalhar o nome de Haddad.

Em qualquer dos casos, resta evidente, Lula surge no comando do processo.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.