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Reinaldo Azevedo

Convenção que lança Maia pré-candidato do DEM é soma de bizarrices e dá conta de um centro desarticulado e sem... centro!

Reinaldo Azevedo

09/03/2018 02h15

Rodrigo Maia: a ânsia de protagonismo é tal que não respeita nem os conselhos do pai, de "outra geração"...

O DEM lançou, na convenção desta quinta, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, como pré-candidato à Presidência da República. Acredito no próprio deputado quando disse, em entrevista nem tão antiga, que não tem votos para disputar tal cargo. Nem terá. Não há alma viva que acredite que ele leve a coisa a sério.

A média das avaliações é que está apenas ganhando musculatura para tentar indicar o vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin. De toda sorte, o evento é um sinal da absoluta desarticulação do campo não-esquerdista. A convenção coincidiu com uma entrevista de Maia à Folha em que o parlamentar expeliu bobagens a granel. E evidenciou, mais uma vez, que lealdade, pessoal ou histórica, não é o seu forte. Disse que o PSDB legou um "câncer" para o país, que é a reeleição. Também sou contra. Mas o ex-PFL, que é o DEM de Maia, foi um entusiasta da causa. Disse ainda que a rejeição ao PSDB inviabiliza a eleição de Alckmin e resolveu bater a carteira de Luciano Huck e tomar para si o discurso da geração: "Essa é uma eleição de mudança na geração da política brasileira. Nossa geração tem de se colocar e tem chance de vitória".

Bem, no dia em que "geração" for categoria política, Maia e Guilherme Boulos estarão no mesmo partido. É uma soma de asneiras.

Na convenção, deixou claro que quer disputar a eleição — tratando seu 1% de intenções de voto como se fosse 100% — e que não vai ser, não, o candidato do governo. Afinal, pontificou o pensador, a sua candidatura é para o futuro, e o governo seria passado. Rodrigo Maia teria mandado Konrad Adenauer para a casa quando, em 1949, pós-nazismo e devastação, ele se tornou chanceler da Alemanha, aos 73 anos. Ficou no cargo ate os 87. O ínclito deputado teria dado um tapinha no ombro do bom velhinho: "Dá licença para a minha geração?" Em 1933, diga-se, a Alemanha havia passado por uma relevante mudança de geração: um tal Adolf havia se tornado chanceler. Aos 44 anos. A tolice perdeu toda a modéstia no Brasil.

Ao "aceitar o desafio de ser candidato", demonstrou que seu unzinho por cento não é obstáculo à ambição: "Aceito o desafio de ser o candidato da mudança, sem o populismo irresponsável (…) Sem o antagonismo atrasado, de direita e esquerda". Entendi. Só restaram como antagonistas os miasmas da impostura e da empulhação, então. Que diabo isso quer dizer? O "de direita" seria Jair Bolsonaro? O de esquerda, seria o PT? Mas esperem: quantos tons de cinza cabem entre essas duas posturas, que, ademais, em muitos aspectos nem opostas são? Costumes e lobby da bala à parte, Bolsonaro e o PT comungam de alguns valores antiliberais em economia.

Então ficamos assim : o pré-candidato Maia quer antagonizar com a esquerda e com a direita — dois atrasos —, mas também com o governo. Nesse caso, Deus deve saber por quê.

Representantes de partidos da base aliada — incluindo o senador Romero Jucá (RR), presidente do PMDB — estiveram presentes ao encontro. Emissários do PP e PR aparentavam entusiasmo com a pré-candidatura. Vamos ver a quantas rodadas de pesquisa isso resiste. "Nós, do Partido Progressista, temos muita esperança em você, de você empunhar nossas bandeiras. Sei que você vai percorrer esse país e os progressistas estarão ao seu lado", disse o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI). O líder do do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), também estava lá. Tucanos, que haviam tomado algumas pancadas de Maia na Folha, também foram prestigiar a retórica. A postulação não conta nem com o apoio de seu pai, César Maia, que pretende se candidatar ao governo do Rio. Alegando uma gripe, o ex-prefeito não compareceu à convenção.

Embora o ministro Moreira Franco (Secretaria de Governo) tenha dito que o presidente Michel Temer não será candidato, dou-me aqui o direito de não descartar a postulação. Se os números das pesquisas devem ser maximizados a esta altura do campeonato, convém, então, que quase todos os pré-candidatos desista. Por que lembro agora o nome de Temer? Porque, reitero, certo como dois e dois são quatro é que haverá um nome para defender as conquistas da gestão, que só podem ser negadas ou por má-fé ou por ideologia, que, nesse caso, é a má-fé disfarçada de convicção política.

As esquerdas, é verdade, vivem um impasse em razão da sucessão de reveses que colhe Lula. Ciro Gomes, agora no PDT, também com pré-candidatura lançada pelo partido, tenta invadir o território do rei fragilizado e lhe sequestrar parte do eleitorado. Não será fácil. De toda sorte, o campo não-esquerdista vive dias bem mais difíceis e incertos. A razão é simples: ninguém consegue entender o que querem os valentes. No fim das contas, pertencem a um governo que se negam a defender; defendem medidas em curso, aplicadas por esse governo, mas não admitem, e se recusam a fazer o enfrentamento do lado podre da Lava Jato, que feriu gravemente a política sob o pretexto de combater os maus políticos.

Sabem aonde se chega assim? A lugar nenhum!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.