Topo

Reinaldo Azevedo

DE QUEM É ESSE TRÍPLEX 2 – Lembro, sim, do mal que o PT me fez; jornalismo pode abrigar o pensamento, mas não o rancor

Reinaldo Azevedo

29/01/2018 23h40

Caras e caros, sei bem o que é andar na contramão de farsas influentes. Não se esqueçam de que o PT foi bem mais poderoso do que a Lava Jato. Eu descia o sarrafo no governo Lula quando ele tinha mais de 80% de aprovação e quando a rejeição caiu abaixo de 5%. Alguns me queriam um lunático. Uma vez, bati boca num almoço com representantes de um dos maiores bancos do país. Eu apontava o caráter autoritário do partido e do governo, e eles só não chamavam o chefão petista de Santo Padroeiro dos Banqueiros Convencidos da Santidade de um Líder de Esquerda porque temiam um tantinho o ridículo. Como me disse um deles, então: "Por mim, esse Lula que está aí ficaria mais 20 anos…" Respondi: "Por mim, não! Eles querem criar, por exemplo, Conselho Federal de Jornalismo para censurar a imprensa…" O rapaz fez aquela cara de "E eu com isso?".

Já afirmei aqui uma 300 vezes e repito. Lembro-me bem do mal que o PT me fez, pressionando agências de publicidade a retirar anúncios da minha revista. Sei de cada uma das vezes que seus bate-paus foram pedir minha cabeça a empregadores. Fosse eu outro cara, estaria a aplaudir a desgraça de Lula. Mas isso não vai acontecer. No país em que até um ex-presidente pode ser condenado sem provas — ou, pior, contra as provas que evidenciam o contrário do que sustenta a acusação —, tudo pode acontecer. E com qualquer um, inclusive comigo. Bem, eu experimentei já a truculência da Lava Jato também, não é?

Não pensem que escrevo o que escrevo e digo o que digo ambicionando ganhar o Troféu Fair Play. É que meu liberalismo não permite que um dos Poderes da República seja de tal sorte hipertrofiado que, em nome da Justiça, tudo passa a ser possível, inclusive ignorar o papel da prova numa condenação.

Quanto são os que verdadeiramente se importam com a questão? Não sei. O que sei, e isto me basta, é que eu me importo. Não darei ao Ministério Público Federal e ao Poder Judiciário a licença para atuar ao arrepio do aparato legal, cavalgando o fogoso cavalo da demagogia. Nem vou dizer que ficaria quieto se isso fosse bom para o Brasil porque não há chance de isso ser bom para o Brasil — e, pois, de eu ficar quieto. Ou um país segue o seu ordenamento legal ou segue a trilha do improviso, da idiossincrasia, da falácia, do poder influente da hora.

E, bem, definitivamente, essa não é a minha praia. Por isso sou praticamente o decano da crítica ao PT e da desconstrução de seu aparelho mental autoritário. Não assistirei ao nascimento de uma espécie de "PT do T" — o PT de Toga — que impõe a sua verdade na base do abafa. Moro não tinha alternativa a não ser enquadrar o Tribunal de Justiça do Distrito Federal,

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.