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Reinaldo Azevedo

Defesa de Temer desmoraliza acusação de Barroso sobre vazamento com evidência inquestionável. Cadê o pedido de desculpa?

Reinaldo Azevedo

08/03/2018 06h28

O ministro Roberto Barroso é daquelas almas insaciáveis que, ao chegar ao limite, incluindo o do ridículo, dão mais um passo. Depois de mandar quebrar o sigilo bancário de Michel Temer — atendendo ao pedido de um delegado da PF, contra posição até do Ministério Público Federal, e de determinar que tal procedimento se estenda a 2013, o que viola a Constituição —, saiu alardeando por aí que dados sigilosos do processo haviam sido vazados para a defesa do presidente.

Segundo o doutor, na petição em que a defesa de Michel Temer pede acesso aos autos do processo, são citados números de procedimentos que estão sob sigilo. O doutor, que se mostra ligeiro na acusação na medida exata de sua ignorância sobre o sistema do vigente no STF, casa que ele integra, acusou vazamento em benefício da defesa, mandou investigar o caso e ainda soltou uma frase de efeito que define a sua própria atuação: "As palavras perderam sentido no Brasil".

Sua acusação resta desmoralizada. A defesa de Temer anexou, em documento enviado ao doutor, imagem que demonstra que o sistema eletrônico do Supremo torna disponíveis tais números a qualquer um que faça a consulta, que é pública.

Como explica a defesa, e é fato, o Diário da Justiça Eletrônico mostra que, em janeiro, foram distribuídas para Barroso duas petições sigilosas ligadas à investigação dos portos (a 7.436 e a 7.437). Não era preciso ser muito bidu. O conteúdo, no entanto, não pode ser acessado.

Assim, a acusação de Barroso não passa, na melhor das hipóteses, de faniquito motivado pela ignorância. Mas essa, insisto, é a melhor das hipóteses. Na pior, parece mesmo que ele atua para criar dificuldades artificiais ao presidente Michel Temer, o que caracterizaria uma forma odienta de perseguição. Mormente porque as prerrogativas constitucionais de Temer estão sendo violadas já no período abrangido pela quebra do sigilo.

É claro que ficou feio para o ministro e que ele deveria vir a público para se desculpar.

Não estou surpreso. Barroso é grande especialista em quase tudo, especialmente nos assuntos sobre os quais ele não entende nada. Bem, este é o homem que escreveu um livro em que narra parte de suas peripécias na defesa do terrorista Cesare Battisti, no qual confessa que, ao receber o alvará de soltura do assassino, perguntou aos jornalistas: "O que eu faço com isso?" Em recente altercação com o ministro Gilmar Mendes, chamava simples investigados de "réus". Parece que ele não teve ainda tempo de saber quando uma pessoa é ré. Explico: só depois de a denúncia ter sido aceita pela Justiça.

E onde está a piada grotesca dessa coisa toda? A defesa de Temer ficou sabendo da quebra do sigilo bancário do presidente, incluindo o período alcançado pelo procedimento, pelo site da revista VEJA. Isso quer dizer que aquele que passou a informação para o jornalista, ou o próprio, teve acesso ao conteúdo da decisão, o que a defesa do presidente ignora. E, quanto a isso, Barroso não deu um pio.

Mas ele sabe como fazer seu lobby e seu marketing pessoal. Aliás, vou recuperar, vocês vão ver, trecho do livro a que me refiro em que ele diz que bom mesmo é estar alinhado com uma causa que conta o apoio da mídia.

Vale dizer: ele tem o chamado sentido do marketing.

E aí? Quando rola o pedido de desculpas?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.