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Reinaldo Azevedo

Deixem o Zé Ninguém da UnB falar, ora! Esquerdopatia nas universidades tem de ser enfrentada nos debate, não nos tribunais

Reinaldo Azevedo

23/02/2018 03h42

Mendonça Filho tem se mostrado um competente ministro da Educação. Resolveu roer alguns ossos duros e está se saindo bem, a exemplo da reforma do ensino médio e da Base Nacional Curricular Comum. Comete agora um erro bobo ao tentar impedir que um professor da UnB — um delinquente intelectual de que eu nunca tinha ouvido falar — ministre no curso de Ciência Política uma disciplina que tem um nome cômico: "O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil".

O dito-cujo, que brilhava até ontem na obscuridade, é Luís Felipe Miguel, um Zé Ninguém até entre seus pares de esquerda. O ministro quer que a Advocacia Geral da União e o Ministério Público Federal apurem se a universidade pode alocar recursos para "promover uma disciplina que não tem nenhuma base na ciência, é apenas promoção de uma tese de um partido político".

Para que entrar numa disputa cuja resposta tende a ser derrota, não havendo ganho efetivo nenhum ainda que sobrevenha a vitória? É evidente que a tese do rapaz não passa de lixo esquerdopata e a serviço do PT. Aliás, fui ver o que ele anda pensando e escrevendo por aí. É um dos queridinhos da Editora Boitempo, que tem como orientador espiritual Emir Sáder, aquele dito intelectual que é dono de um país mental chamado "Emirados Sáderes", onde até se fala uma língua própria que chega a lembrar o português em alguns momentos.

É claro que é um absurdo ministrar um troço como esse. Observem que não há nem mesmo uma interrogação no nome de batismo da disciplina. Para esse gênio da raça, foi golpe e pronto! Como dois e dois são quatro, e o doutor não conseguiria demonstrar em que parte a Constituição e as leis restaram feridas — portanto, golpe não foi —, o curso certamente se resume a proselitismo político vagabundo, ministrado pela mixuruquice intelectual. E se destina a já convertidos.

Até onde entendi, trata-se de uma disciplina optativa. Se obrigatória, aí, sim, parece-me evidente que os alunos que a ela não quiserem se submeter têm o direito de recorrer à Justiça alegando objeção de consciência. Não haveria, nesse caso, nenhuma diferença entre tal pregação e o ensino religioso obrigatório. O traço distintivo é que a religião do tal professor não tem Deus. Sobre o capeta, nada posso assegurar.

Como ignorava a existência do gajo — eu e toda gente —, decidi ler alguns de seus artigos. O sujeito é de um esquerdismo pedestre. O que me espanta é que seja professor universitário argumentando com a habilidade de um dragão de Komodo — consta que o bicho vem lá da pré-história — se movendo numa biblioteca. Seus textos defendendo que Lula está sendo perseguido e foi condenado sem provas deveriam lhe render algumas chicotadas morais em praça pública. Eu, que já demonstrei por A mais B que, com efeito, inexistem as tais, fiquei até meio constrangido. É por isso que o ex-presidente recomendou aos seus: "Façam como Reinaldo Azevedo". Não é besta. Imaginem se diria: "Façam como Luis Felipe Miguel…" Claro que não! Este serve para enganar trouxas que caem na sua conversa.

Sim, é uma estupidez, mas acho que nada pode ser feito. Duvido que o ministro da Educação logre o seu intento. Pior: dá ao prosélito irrelevante um palanque. A resposta que a Justiça tenderia a dar a isso, se a questão lá chegasse, é que a autonomia universitária contempla uma pluralidade de vozes, inclusive a daqueles que pretendem provar a cientificidade da tese do golpe. Reitero: a disciplina não pode ser obrigatória. Se for, aí estamos em outro domínio.

Mais uma vez, Miguel Nagib, do Escola Sem Partido, erra ao emitir sua opinião a respeito. Para ele, a disciplina viola a Constituição. Argumenta, de modo equivocado a mais não poder: "O princípio da impessoalidade significa que um servidor público não pode agir movido por preferências ideológicas, e é claramente o caso dessa disciplina — começa pelo título". Tiro n'água, doutor. A delinquência intelectual começa pelo título, mas não a inconstitucionalidade. Até porque a mesma UnB permite que se crie uma disciplina — e fica aqui a sugestão — intitulada: "Como os governos do PT assaltaram o Estado de Direito". Ou ainda: "Como o PT se organizou para instituir, numa democracia, a ditadura do partido único".

Reitero: um caso que ficaria restrito a meia-dúzia de radicaloides de esquerda, sob a orientação de um dublê de professor e militante do PT, rompe a linha da delinquência intelectual para ser tratado como como uma questão de liberdade de expressão. Não é algo inteligente a fazer. Deixe o Zé Ninguém falar, ora essa!

E, nesse ponto, vou ao cerne da divergência que passei a ter com o Escola Sem Partido, depois que o grupo decidiu demonstrar paixões legiferantes e ânimo censório — sim, os idiotas também têm direito de falar. O tal Luís Felipe Miguel merecia uma de duas respostas:
a: ser ignorado; e ele que ficasse lá pregando para convertidos;
b: ser confrontando por alunos que decidissem fazer o seu curso para demonstrar o ridículo de sua tese, o primitivismo de suas formulações e a inadequação de sua militância partidária numa universidade.

Gente assim tem de ser enfrentada, não silenciada.

Talvez um dia eu consiga convencer, mas não estou certo disto, os nossos liberais — ou aqueles que assim se identificam — de que os cretinos têm de ser confrontados no debate, nas universidades e nas ruas (com lei e ordem), não nos tribunais. A judicialização do debate político e do debate intelectual só serve a censores de ambos os lados.

Luis Felipe Miguel deveria ter sido mantido nos porões mentais em que sempre brilhou — seus textos chegam a bater recorde de quatro comentários…  Agora, por um tempo, ele será alguém. Seus adversários intelectuais contribuíram para isso. Até agora, ele foi o único que saiu ganhando nessa história.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.