Deixem o Zé Ninguém da UnB falar, ora! Esquerdopatia nas universidades tem de ser enfrentada nos debate, não nos tribunais
Mendonça Filho tem se mostrado um competente ministro da Educação. Resolveu roer alguns ossos duros e está se saindo bem, a exemplo da reforma do ensino médio e da Base Nacional Curricular Comum. Comete agora um erro bobo ao tentar impedir que um professor da UnB — um delinquente intelectual de que eu nunca tinha ouvido falar — ministre no curso de Ciência Política uma disciplina que tem um nome cômico: "O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil".
O dito-cujo, que brilhava até ontem na obscuridade, é Luís Felipe Miguel, um Zé Ninguém até entre seus pares de esquerda. O ministro quer que a Advocacia Geral da União e o Ministério Público Federal apurem se a universidade pode alocar recursos para "promover uma disciplina que não tem nenhuma base na ciência, é apenas promoção de uma tese de um partido político".
Para que entrar numa disputa cuja resposta tende a ser derrota, não havendo ganho efetivo nenhum ainda que sobrevenha a vitória? É evidente que a tese do rapaz não passa de lixo esquerdopata e a serviço do PT. Aliás, fui ver o que ele anda pensando e escrevendo por aí. É um dos queridinhos da Editora Boitempo, que tem como orientador espiritual Emir Sáder, aquele dito intelectual que é dono de um país mental chamado "Emirados Sáderes", onde até se fala uma língua própria que chega a lembrar o português em alguns momentos.
É claro que é um absurdo ministrar um troço como esse. Observem que não há nem mesmo uma interrogação no nome de batismo da disciplina. Para esse gênio da raça, foi golpe e pronto! Como dois e dois são quatro, e o doutor não conseguiria demonstrar em que parte a Constituição e as leis restaram feridas — portanto, golpe não foi —, o curso certamente se resume a proselitismo político vagabundo, ministrado pela mixuruquice intelectual. E se destina a já convertidos.
Até onde entendi, trata-se de uma disciplina optativa. Se obrigatória, aí, sim, parece-me evidente que os alunos que a ela não quiserem se submeter têm o direito de recorrer à Justiça alegando objeção de consciência. Não haveria, nesse caso, nenhuma diferença entre tal pregação e o ensino religioso obrigatório. O traço distintivo é que a religião do tal professor não tem Deus. Sobre o capeta, nada posso assegurar.
Como ignorava a existência do gajo — eu e toda gente —, decidi ler alguns de seus artigos. O sujeito é de um esquerdismo pedestre. O que me espanta é que seja professor universitário argumentando com a habilidade de um dragão de Komodo — consta que o bicho vem lá da pré-história — se movendo numa biblioteca. Seus textos defendendo que Lula está sendo perseguido e foi condenado sem provas deveriam lhe render algumas chicotadas morais em praça pública. Eu, que já demonstrei por A mais B que, com efeito, inexistem as tais, fiquei até meio constrangido. É por isso que o ex-presidente recomendou aos seus: "Façam como Reinaldo Azevedo". Não é besta. Imaginem se diria: "Façam como Luis Felipe Miguel…" Claro que não! Este serve para enganar trouxas que caem na sua conversa.
Sim, é uma estupidez, mas acho que nada pode ser feito. Duvido que o ministro da Educação logre o seu intento. Pior: dá ao prosélito irrelevante um palanque. A resposta que a Justiça tenderia a dar a isso, se a questão lá chegasse, é que a autonomia universitária contempla uma pluralidade de vozes, inclusive a daqueles que pretendem provar a cientificidade da tese do golpe. Reitero: a disciplina não pode ser obrigatória. Se for, aí estamos em outro domínio.
Mais uma vez, Miguel Nagib, do Escola Sem Partido, erra ao emitir sua opinião a respeito. Para ele, a disciplina viola a Constituição. Argumenta, de modo equivocado a mais não poder: "O princípio da impessoalidade significa que um servidor público não pode agir movido por preferências ideológicas, e é claramente o caso dessa disciplina — começa pelo título". Tiro n'água, doutor. A delinquência intelectual começa pelo título, mas não a inconstitucionalidade. Até porque a mesma UnB permite que se crie uma disciplina — e fica aqui a sugestão — intitulada: "Como os governos do PT assaltaram o Estado de Direito". Ou ainda: "Como o PT se organizou para instituir, numa democracia, a ditadura do partido único".
Reitero: um caso que ficaria restrito a meia-dúzia de radicaloides de esquerda, sob a orientação de um dublê de professor e militante do PT, rompe a linha da delinquência intelectual para ser tratado como como uma questão de liberdade de expressão. Não é algo inteligente a fazer. Deixe o Zé Ninguém falar, ora essa!
E, nesse ponto, vou ao cerne da divergência que passei a ter com o Escola Sem Partido, depois que o grupo decidiu demonstrar paixões legiferantes e ânimo censório — sim, os idiotas também têm direito de falar. O tal Luís Felipe Miguel merecia uma de duas respostas:
a: ser ignorado; e ele que ficasse lá pregando para convertidos;
b: ser confrontando por alunos que decidissem fazer o seu curso para demonstrar o ridículo de sua tese, o primitivismo de suas formulações e a inadequação de sua militância partidária numa universidade.
Gente assim tem de ser enfrentada, não silenciada.
Talvez um dia eu consiga convencer, mas não estou certo disto, os nossos liberais — ou aqueles que assim se identificam — de que os cretinos têm de ser confrontados no debate, nas universidades e nas ruas (com lei e ordem), não nos tribunais. A judicialização do debate político e do debate intelectual só serve a censores de ambos os lados.
Luis Felipe Miguel deveria ter sido mantido nos porões mentais em que sempre brilhou — seus textos chegam a bater recorde de quatro comentários… Agora, por um tempo, ele será alguém. Seus adversários intelectuais contribuíram para isso. Até agora, ele foi o único que saiu ganhando nessa história.