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Reinaldo Azevedo

Delinqüência intelectual

Reinaldo Azevedo

23/02/2017 21h57

Leitores me perguntam por que pego no pé de Mercadante, que não tem nenhuma importância. Todo muito tem algumas esquisitices, não é? A minha talvez seja não suportar o seu discurso. Há nele uma espécie de delinqüência intelectual, que depreda qualquer forma de inteligência e de compromisso com a verdade, que me é insuportável. Certo, dirão, isso está no PT como um todo. É verdade. Mas ele consegue emprestar especial inflexão à bobagem. Vejam o caso de hoje. Ele participou de um debate na Força Sindical e disse que os governos tucanos não souberam enfrentar a questão da guerra fiscal. Em seguida, tendo servido ao governo que aumentou a carga tributária, promete simplificar e reduzir impostos. Este senhor votou a favor de um projeto de José Sarney (PMDB-AP) que transformaria metade do Brasil numa zona franca — ou numa zona. São Paulo iria para a breca. Pior: ele reconheceu em sua declaração de voto que o projeto era ruim, mas votou a favor porque disse não poder se opor a Sarney, seu amigo etc e tal. Entre Sarney e São Paulo, escolheu o primeiro. E agora pontifica sobre guerra fiscal? Depois disse que FHC não criou vagas nas universidades. A prioridade da gestão do ex-presidente, plenamente atingida, foi universalizar o ensino fundamental. Sem contar que houve, sim, grande expansão do ensino universitário — só que não com dinheiro público, como Lula faz hoje. Tal expansão estava sendo avaliada pelo provão, que obrigava as faculdades a buscar qualidade. O PT destruiu o sistema. E hoje repassa dinheiro para mantenedoras sem qualquer controle da qualidade do que é ministrado. Mas Mercadante segue adiante. A verdade, para ele, é mera contingência.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.