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Reinaldo Azevedo

Duvivier e Bolsonaro finalmente se juntam! E foi Temer a uni-los contra os interesses da população do Rio e do Brasil. Um golaço!

Reinaldo Azevedo

19/02/2018 08h27

Gregório Duvivier e Jair Bolsonaro: escolha o olhar perturbado de sua predileção. Os dois têm agora uma causa em comum. Só estranha quem ainda não compreendeu a natureza comum dos fascismos de esquerda e de direita

Se eu quisesse emitir uma opinião meio apalhaçada sobre decisão do governo federal de intervir na área de segurança pública do Rio, poderia fazê-lo assim: a prova de que o presidente Michel Temer agiu com correção está na contrariedade furiosa do deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e do humorista Gregório Duvivier. E há, claro, a reação dos petistas, em especial da senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT. Segundo a preclara, o objetivo da intervenção e reprimir os movimentos sociais. O PT já anunciou que votará contra a medida. Outro golaço do presidente Michel Temer!!! Sempre que alguém leva o PT a se manifestar explicitamente contra os interesses da população, as coisas estão no seu devido lugar. Eu me sinto contrariado é quando a legenda consegue iludir a massa.

Uma digressão. Dia desses, um dirigente petista lamentava em conversa com este escriba: "É chato pra nós que você — ELE SE REFERIA A MIM — faça sobre o caso Lula uma análise técnica sem comparação nos quadros da esquerda. O nosso pessoal transforma tudo numa guerra do bem contra o mal, numa batalha ideológica. Isso só contribui para ferrar [ele usou outro verbo] o Lula". Nota: ele antevê que o chefão petista irá, sim, para a cadeia; se não for agora, será depois do trânsito em julgado, no Superior Tribunal de Justiça. E ele está certo. É o que acho que vai acontecer. E irá para o xadrez à esteira de um processo em que foi condenado sem provas. Observem que não entro no mérito sobre a origem do apartamento. Ao Estado de Direito, num tribunal, interessam as provas. OCORRE QUE UM ESQUERDISTA NÃO TEM DNA INTELECTUAL E MORAL PARA ENTENDER ESSA QUESTÃO. UM FASCISTA DE DIREITA TAMBÉM NÃO. Fascistas de direita e de esquerda, em suma, não dão a menor bola para o ordenamento legal porque consideram tratar-se de uma conspiração contra os legítimos interesses das massas que julgam representar ou em nome das quais anseiam falar. Um fascista de esquerda acha que o Estado de Direito só existe para proteger seus adversários. Um fascista de esquerda também. Encerro a digressão.

Em sua coluna na Folha, Duvivier sustenta que a intervenção no Rio é feita contra os pobres e favelados. Obviamente ele não se interessou em indagar o que pensam os pobres e favelados que são feitos reféns dos narcotraficantes, a exemplo da população do morro do Tuiuti, que só é um "quilombo da libertação" na imaginação perturbada de Jack Vasconcelos, o carnavalesco do PSOL, segundo quem a verdadeira liberdade ainda está no tronco da CLT da "Carta del Lavoro" do fascista Getúlio Vargas. Não é tragicamente engraçado que os socialistas do PSOL transformem o fascismo caboclo em samba no pé e que ainda alimentem a ilusão de que os criminosos são apenas revolucionários que tomaram um pequeno desvio? Como já escrevi aqui, para esses valentes, Rogério 157 não é Lênin por um triz…

Chutando, como de hábito, Duvivier diz que, muito provavelmente, os furtos somados no Rio não chegam à quantidade contida nas malas do Geddel Vieira Lima. Fosse o caso de levar a sério a tolice, haveria de se perguntar se ele quer prender os outros ladrões ou se quer soltar Geddel. O humorista cita ainda o helicóptero de um senador do PSDB que estaria transportando cocaína. A que senador ele se refere? Seria o caso de o partido interpelá-lo.

Não pensem que o Rio chegou àquele estado de desordem da noite para o dia. Essa elite carioca a que Duvivier pertence é, em grande parte, responsável pela tragédia. Seja em razão de seus hábitos — para ser clinicamente simplório — de consumo, seja em razão das drogas culturais que trafica. E a mais perigosa delas é aquela que supõe que o povo pobre do Rio tem pela bandidagem a mesma simpatia que ela, essa elite pervertida e decaída, tem. Daí que Duvivier desconfie do apoio de 87% da população à intervenção, conforme pesquisa que teria sido encomendada pelo governo, segundo noticiou o Globo. O humorista acha que o povo não foi consultado.

Ele deveria pegar um banquinho, transformá-lo em palanque e pregar em praça pública contra a intervenção. Como está convicto de que os moradores das favelas são contrários à decisão, poderia ir pregar, por exemplo, na Rocinha ou no Complexo do Alemão. Teria, assim, a oportunidade de fazer a sua própria pesquisa.

Também na Folha, Mathias Alencastro escreve outro artigo incrivelmente irresponsável. De saída, noto que ele chama o presidente Temer de "ilegítimo". Isso não é uma opinião. É uma marca ideológica. A ilegitimidade só é dada no cotejo com algum diploma legal ou no desprezo a tal diploma. Como o rapaz não conseguiria evidenciar a ilegitimidade segundo a Constituição que temos, isso implica dizer que ele a despreza como fonte de legitimidade do poder. Bem, a premissa torna imprestável o resto do que diz.

Mas me permito aqui comentar brevemente sua diatribe falaciosa. Ele cita exemplos colhidos mundo afora que estariam na contramão da decisão tomada por Temer. É puro exercício diletante. Afinal, não há um só caso que responda ao fato de que a segurança do Rio entrou em colapso, de que o Estado está quebrado, de que as polícias estão infiltradas pelo crime, de que o próprio governador admite que, com os instrumentos que estão à sua disposição, nada pode ser feito.

A direita brasileira, com raras exceções, revelou-se, nesse período pós-derrocada do PT, um deserto de ideias. Tanto é assim que se apegou a uma agenda estupidamente moralista — seja no que diz respeito aos costumes, seja no que se refere à política e à organização do Estado — e permitiu a ressurreição do petismo, de sorte que lhe resta, hoje, torcer para que Lula seja impedido pela Justiça de concorrer. Mas olhem o lixo moral em que a esquerda continua mergulhada. É espantoso!

Não é de estranhar que os esquerdistas não consigam fazer a devida defesa de Lula e que o ex-presidente tenha de pagar o mico de lhes sugerir que "façam como Reinaldo Azevedo". E ele não estava brincando. Falava a sério. Essa gente não dá a menor pelota para o Estado de Direito, para as leis, para a Constituição. Nada! Continua a alimentar sonhos abstratos de libertação, pouco se importando se o povo pobre, em nome do qual ousa falar, é ou não refém daqueles criminosos que, segundo o carnavalesco da Paraíso da Tuiuti, garantem o "quilombo da libertação" — ou algo assim.

Duvivier e Bolsonaro deveriam promover um ato conjunto contra a intervenção federal no Rio. Dois infinitos de estupidez se estreitando num abraço insano. E, claro, têm de convidar Alencastro para o evento.

Se o deputado que se comporta como humorista e o humorista que se comporta como deputado estão contra, parece grande a chance de que se fez mesmo a coisa certa.

Há mais: ambos estão sentindo o cheiro de que a medida pode ter um impacto eleitoral contrário aos interesses que advogam. Agora só falta o presidente indicar um general da ativa para a Segurança Pública. Duvivier e Bolsonaro ficarão ainda mais indignados. Unidos numa mesma causa, certamente fazem um bem imenso ao Brasil e aos brasileiros.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.