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Reinaldo Azevedo

ELEIÇÕES 2018: Ai, ai, e volta a conversa sobre Huck, o Tiririca da turma com 3º grau e o sonho de consumo da batalha petista

Reinaldo Azevedo

01/02/2018 07h30

Ai, ai…

Lá vem de novo a onda Luciano Huck… Consta que seus aliados já se preparam para lançar a sua candidatura, embalados pela confirmação da condenação de Lula. O noticiário tem a sua graça. Lá de Paris — e ele tem o direito de passar as férias onde quiser —, consta, ele emitiu sinais de contentamento por ver seu nome empatado com o do tucano Geraldo Alckmin, com 8% das intenções de voto, como se isso fosse realmente um índice estupendo para alguém com a sua exposição na TV.

Aí ficamos sabendo que Guillaume Liegey, o marqueteiro do presidente francês, Emmanuel Macron, anda conversando com Luciano e está de olho, vamos dizer assim, no mercado brasileiro. Ah, por favor! Não se esqueçam de contar pra ele como funciona o sistema no Brasil, o peso dos estados na campanha, o que é voto proporcional, essas coisas que, por exemplo, marqueteiros americanos logo descobrem e se desencantam quando chegam a Banânia, vindos lá daquela disputa travada em colégio eleitoral.

É verdade! Sem Lula, Huck consegue 8 pontos percentuais, empatado com Alckmin. Quando o petista está no páreo, modestíssimos 5% ou 6%. Isso sugere que, se Lula decidir grudar no pescoço do apresentador na campanha, a barra pode pesar.

Já escrevi na Folha, no blog, afirmei aqui e em toda parte. O eventual lançamento da candidatura de Huck, por um partido de nome já tradicional e que funcionaria, mais uma vez, como barriga de aluguel — o PPS —, é um evento dos sonhos para o PT, com ou sem Lula na disputa. A narrativa já estará preparada. Pior: ela pode ser falsa, mas será verossímil.

Em primeiro lugar, é sabido que Huck nem cogitaria lançar-se caso Lula estivesse na disputa. Essa história que assim seria porque parte do eleitorado de Luciano é também o do petista é besteira. Basta ver seu desempenho com e sem o ex-presidente. A conversa é outra: Lula teria um enorme prazer em fazer do apresentador o emissário da TV Globo. Ele já se manifestou nesse sentido, aliás.

Ocorre que, se Luciano decidir disputar justamente porque o chefão petista não estará entre os candidatos, aí a gesta petista será outra, de outra natureza: a Globo decidiu, dirão os companheiros, apoiar a condenação de Lula para poder apresentar o seu candidato e tentará, finalmente, governar o Brasil sem intermediários. Até outro dia, poder-se-ia dizer que faltariam elementos críveis para evidenciar esse comprometimento da emissora. Depois da entrevista do casal Luciana-Angélica no programa do Faustão, não falta mais nada.

Antevi aqui que teria início a especulação contra a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB), que se moveu pouco nas pesquisas. Eis aí. João Doria, o prefeito, já não mais ameaça o seu lugar no PSDB. O que agora perturba é eventualmente uma tentativa de fazer de Luciano o tal candidato da modernidade, do centro, da mudança — não se sabe exatamente mudança em relação a quê. Até agora, não conhecemos o pensamento do rapaz sobre coisa nenhuma. Macron, o presidente francês, era do Partido Socialista, tinha sido banqueiro e ministro das Finanças. Além da vontade ajudar o Brasil, que bom!, Luciano pensa exatamente o quê?

Quando o chamei certa feita de o "Tiririca dos Descolado", acharam que busquei ofendê-lo. Eu não! Por que o povo achou que Tiririca poderia ser um bom deputado, embora não se conhecesse nada sobre seu pensamento. Ah, porque a política precisaria de alguém com a sua espontaneidade, originalidade, verdade, sei lá… É mais ou menos o que pretende certa parcela da elite com o apresentador. Ele é bem intencionado, é rico, não é um radical…

Basta para governar o Brasil? A propósito: para a Previdência, ele quer o quê? O Brasil não é uma lata velha que pode ficar com aparência de nova, mediada por uma operação de merchandising.

Tenham paciência!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.