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Reinaldo Azevedo

Embaixada dos EUA no Brasil se manifesta sobre post deste blog e nega discriminação; comento

Reinaldo Azevedo

24/08/2017 15h34

Hussein Kalout e o passaporte diplomático: o que é o que não é razoável

Publiquei, no dia 23 de agosto, um texto cujo título é este: "Aplauso! Auxiliar de Temer de origem árabe reage a racismo de empresa americana no Brasil".

A embaixada dos EUA no Brasil manda ao blog a seguinte mensagem:

"Medidas de segurança na aviação global vêm sendo intensificadas em toda parte do mundo, incluindo no Brasil, para voos para os Estados Unidos, como foi anunciado pelo secretário da Segurança Interna dos EUA em março deste ano. Os passageiros que voarem para os EUA podem passar por uma inspeção adicional, pessoal e de seus pertences. Lembramos que passageiros indo para os EUA devem se preparar para um processo de inspeção mais extenso.

Lamentamos o ocorrido com o secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Hussein Kalout.

De acordo com os regulamentos de segurança da aviação dos EUA, todos os passageiros que voarem para o país estão sujeitos a inspeções de segurança, incluindo aqueles que já o visitaram anteriormente. Qualquer passageiro, incluindo cidadãos norte-americanos, pode ser selecionado aleatoriamente para medidas adicionais que não discriminam qualquer raça, etnia ou religião".

Comento
Não questionei "os regulamentos de segurança da aviação dos EUA". Quem não quiser se submeter a eles, parece-me, tem uma opção: basta não ir aos EUA. O que considerei e considero uma afronta é que, depois de submetido aos procedimentos regulares de segurança, um brasileiro, com passaporte diplomático, assessor da Presidência da República, seja destacado no finger para uma vistoria pessoal. Ocorre de esse cidadão ser descendente de árabes, ter nome árabe e, bem…, cara de árabe.

No caso, um antônimo virou sinônimo, e o "aleatório" passa a coincidir com o "infrequente".

Mas que se destaque: no post, eu aplaudo a decisão de Hussein Kalout de, assessor do governo brasileiro, ter-se negado a ser vistoriado por representante de empresa americana em… solo brasileiro. Nos EUA, note-se, o próprio Kalout já havia sido alvo da "seleção aleatória".

Não estou pregando uma mudança dos "regulamentos de segurança da aviação dos EUA". O que faço, sim, é convocar outros representantes do governo brasileiro, que portem passaporte diplomático, a seguir o comportamento de Kalout em situações eventualmente semelhantes.

Vejam bem: com a minha cara de vira-lata, acho que dificilmente seria indicado para vistoria especial numa "seleção aleatória". Se acontecesse, a ela me submeteria. Fazer o quê? Afinal, não represento o governo de um país amigo dos EUA nem porto passaporte diplomático. Insisto num norte conceitual: "Nada contribui mais para corromper a norma do que a aplicação burra da norma."

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.