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Reinaldo Azevedo

Esqueçam Donald Trump; o dólar disparou em razão do temor de que Bolsonaro dispute o 2º turno com Ciro. Dois nomes contra as reformas!

Reinaldo Azevedo

08/06/2018 08h27

A greve dos caminhoneiros e a confusão do frete são apenas desdobramentos da questão mais geral. A elite política brasileira foi destroçada. Alguns fanáticos hão de dizer: "Bem feito! Eram todos corruptos." Em primeiro lugar, não é verdade. Em segundo lugar, em determinados momentos, existe uma diferença grande entre o crime de que alguém é acusado e aquilo que a pessoa, de fato, praticou. Mais: não se pode confundir abertura de inquérito com denúncia aceita; denúncia aceita com condenação; vazamentos de conversas que não evidenciam crime nenhum com "prova de desmandos". Tudo isso está em curso hoje.

Vou além: observem que a política brasileira se tornou refém dos bandidos que foram convencidos pelo MPF a fazer delação premiada. A crise que abreviou e ameaça apagar as virtudes, que eram grandes, do governo Temer foi deflagrada por um homem que confessou ter cometido, em companhia de sua turma, 245 crimes. Refiro-me a Joesley Batista. Aliás, até agora, o ministro Edson Fachin, do Supremo, ainda não anulou a sua delação. Fiquemos atentos.

A barafunda do frete é só um ponto a mais na trilha da incerteza. A menos que o horário eleitoral sirva como um gatilho a disparar um tantinho de bom senso, o país pode caminhar para um segundo turno entre dois candidatos que representam tudo aquilo que os defensores da economia de mercado não querem ouvir. Temos um estatista de extrema-direita, Jair Bolsonaro, e um estatista de esquerda, que é aquilo em que Ciro Gomes se tornou, ainda que essa roupagem faça parte de um processo de reinvenção de sua própria trajetória. Ciro é ovo, ainda que tardio, chocado na antiga Arena, o partido da ditadura.

Ele se transformou num esquerdista ou, sei lá, um "neonacional-desenvolvimentista" na sua política de confronto pessoal com tucanos de alta plumagem. Eu diria que ele foi para a esquerda mais por ódio a FHC e a José Serra do que por convicção. Mas, inegavelmente, gostou de ficar lá e se tornou um eloquente crítico do suposto financismo que ditaria os rumos da economia brasileira. Aliado do PT, o que não deixa de ser curioso, é também, como se sabe, um adversário feroz do PMDB e da "roubalheira". Ciro chama de ladrão quem lhe dá na telha. Jamais um petista. Não depende dos votos dos peemedebistas par chegar lá. Mas depende do voto dos companheiros, ainda que num eventual segundo turno.

Digam-me: por que os mercados haveriam de se animar? Especular é parte da regra do jogo. Mas só se especula quando existem condições para isso, certo?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.