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Reinaldo Azevedo

Ex-presidente da BRF Pedro Faria é solto pela Polícia Federal

Reinaldo Azevedo

09/03/2018 19h11

O ex-presidente da BRF Pedro Faria foi solto nesta sexta-feira (9) pela Polícia Federal. Ele estava preso desde segunda-feira (5), acusado pela Operação Trapaça de encobrir fraudes em amostras laboratoriais.

O juiz federal André Wasilewski Duszczak decidiu não prorrogar a prisão temporária, que expirou hoje, porque o executivo está fora do comando da empresa e, portanto, não poderia atrapalhar as investigações.

Faria deixou a presidência global da BRF, resultado da fusão de Sadia e Perdigão, em dezembro do ano passado, cargo que ocupava desde o fim de 2014. Ele é sócio do fundo de investimentos Tarpon, um dos principais acionistas da gigante de alimentos.

Também foram soltos nesta sexta-feira (9) os outros nove funcionários e ex-funcionários da BRF que haviam sido presos, incluindo o ex-vice-presidente de suprimentos Hélio Rubens Mendes dos Santos Junior.

Para o criminalista Aloísio de Medeiros, advogado de Faria, a opção pela prisão na Operação Trapaça só foi adotada pela PF e pelo Ministério Público por causa da proibição de excesso de conduções coercitivas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

"As conduções coercitivas vinham sendo abusivamente utilizadas nas operações e agora adotaram a prisão como se a segregação de liberdade fosse colírio", afirmou Medeiros.

Faria foi detido por causa de um email que enviou a três vice-presidentes, depois de saber da ação trabalhista de uma ex-funcionária, que acusava a empresa de obrigá-la a adulterar os resultados de testes laboratoriais na planta de Rio Verde (GO).

No email, o executivo escreveu: – "Isso é um absurdo! Nós sempre tomamos bucha nos mesmos lugares. Hélio, por favor, avalie algo drástico por lá".Para o Ministério Público, a mensagem demonstrava que "as fraudes eram reiteradas" na BRF e o então presidente estava pedindo ao líder do setor de suprimentos que "encobrisse o delito".

Em seu depoimento, Faria afirmou, no entanto, que estava solicitando "remoção, demissão e outras medidas disciplinares" contra os responsáveis pela fraude ao pedir "medidas drásticas".

Ele disse ainda que a denúncia da ex-funcionária foi a "gota d`água" de vários problemas enfrentados na unidade de Rio Verde (GO), como ações trabalhistas e reclamações de clientes

DESDOBRAMENTO
O caso surgiu a partir de uma ação trabalhista movida por Adriana Marques Carvalho, ex-supervisora de qualidade de Rio Verde. No processo, a ex-funcionária acusa superiores de obrigá-la a falsificar resultados de testes.

Segundo Adriana, entre 40% e 70% das amostras mensais testadas de produtos pela BRF davam positivo para a presença da bactéria salmonela, enquanto o mínimo aceitável pelo governo brasileiro é de 20%. Por isso, os laudos eram alterados.

O tipo de salmonela encontrada nas amostras não provoca dano à saúde humana, mas, como afeta as aves, pode trazer prejuízos à empresa, como fechamento de mercados importadores que não toleram a presença da bactéria.

Santos também foi questionado pela PF se tomou providências para averiguar as denúncias feitas por Adriana.

Ele disse que pediu à área de produção para fazer uma auditoria e verificar as acusações, mas que não se recorda se teve retorno sobre o que foi apurado.

O ex-gerente da unidade da BRF de Carambeí (PR) Luiz Augusto Fossati negou também em depoimento à Polícia Federal que aves contaminadas pela salmonela tenham sido exportadas.

CENTRALIZAÇÃO
Como uma resposta às denúncias, o governo emitiu uma portaria que centraliza em Brasília a fiscalização de frigoríficos.

A centralização visa a reduzir as possibilidades de interferência político-partidária sobre a fiscalização. A fiscalização será coordenada pelo Dipoa (Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal), em Brasília.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.