Topo

Reinaldo Azevedo

Falei há pouco com Temer no Sírio-Libanês: “Four more years”. E a “Oração aos Moços”, de Rui

Reinaldo Azevedo

25/11/2017 22h13

Presidente Michel Temer: intervenção bem sucedida e bom humor. Eis uma boa mistura

— Presidente?
— Oi, Reinaldo, como vai?
— "Four more years", só pra recomeçar?
— [risos] Pois é… A gente não é dono do futuro. Mas você sabe que me disseram que o coração, agora, ficou muito bom!
— Foi o Kalil quem disse?
— Foi, sim!
— Ele é um craque.
— O senhor está se sentindo bem?
— Muito bem!
— A voz está firme, sem nenhum sinal de que o senhor passou por um procedimento delicado.
— Sabe que já me falaram isso?
— Estou aqui torcendo para que o senhor se recupere logo.
— Estou com dois stents. Li que são feitos de uma mistura de aço e cobalto.
— Então… Nós dois agora pertencemos aos reinos animal e mineral. Tenho molas de platina e tungstênio no cérebro.
— Isso deve ser bom. Seu cérebro parece ir muito bem…
— Os críticos dizem que não; que arrancaram o cérebro e só deixaram o aneurisma [risos].
— Essas coisas são assim mesmo… Você se lembra daquela passagem da "Oração aos Moços", do Rui Barbosa, em que ele fala da dívida que temos com os inimigos? Segundo o Rui, por mais mal que nos façam, o bem será sempre maior porque, em razão do que nos fazem, a gente se depura.
— Lembro, sim. Nem sempre é fácil a gente exercitar aquela lição, mas ele estava certo.
— É verdade!
— Liguei para expressar os votos de pronto restabelecimento. Fico feliz e tranquilo ao perceber que o senhor está tão bem!
— Muito obrigado, Reinaldo!

Essa foi a conversa que mantive há pouco, ao telefone, com o presidente Michel Temer, que está internado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Ele passou nesta sexta por um cateterismo para desobstrução de três artérias do coração — duas delas receberam stents, microtubos expansíveis que impedem futuras obstruções. A equipe que o atendeu é chefiada pelo cardiologista Roberto Kalil Filho, que cuida, com a competência habitual, também do meu coração de manteiga.

Sendo o procedimento bem-sucedido, e o de Temer foi, o portador de tal, digamos, "artefato" não corre risco adicional nenhum na comparação com pessoas que tenham o coração saudável. Ah, o mesmo vale para as tais "molas" empregadas na embolização de aneurismas.

Sempre a calma
Ao longo desses meses, desde a crise deflagrada pelo vazamento da conversa que não existiu entre Temer e Joesley Batista — não nos termos anunciados —, falei, sei lá, umas dez vezes com o presidente. Em duas delas, ele estava internado: o papo de há pouco e o da internação anterior. Nunca o vi alterado, bilioso, com ódio. Mas essa constatação poderia retratar apenas, digamos, interiores, sendo mera cena privada, sem consequências na vida pública.

Mas isso não é verdade. Nesse tempo, a agenda avançou, e o presidente se saiu vitorioso em todas as matérias que foram votadas pelo Congresso; atuou, a despeito das dificuldades, em parceria com o Poder Legislativo.

Impressiona-me a dificuldade que tem a imprensa de reconhecer esses avanços. Ou porque está atrelada a pressupostos ideológicos que vêm de longe ou porque é refém de uma doxa, imposta pelo Ministério Público Federal e pelo rancor disfarçado de moral elevada, que a impede de ver o óbvio.

Poucos políticos, em circunstâncias normais — isto é, sem suceder a um presidente deposto e sem ser assediado por duas denúncias escandalosamente ilegais —, teriam ido tão longe. Acho que eu mesmo preciso refazer a frase: nenhum dos que o antecederam, ainda que em condições absurdamente mais favoráveis, foram tão longe. A reforma trabalhista que o diga. As intervenções cirúrgicas na economia (sem trocadilho com o momento) repuseram o Brasil na trilha do crescimento.

Se o país fizer a coisa certa — as reformas — e se os brasileiros fizerem a escolha certa, teremos um longo período de crescimento pela frente. E o crescimento é sempre o melhor motor da justiça social, da elevação de renda da população, da autonomia dos indivíduos.

Temer já é o presidente mais injustiçado da história do país.

E torço, pois, para que o tempo se encarregue de corrigir essa distorção.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.