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Reinaldo Azevedo

Famílias voltam a hábitos de consumo da fase pré-crise, como manteiga, requeijão e azeite. Juízo não voltou à turma do ‘centro’

Reinaldo Azevedo

12/03/2018 08h11

Informa reportagem do Estadão desta segunda:
"Dados da consultoria Kantar Worldpanel mostram que, em 2017, mais de dois milhões de lares voltaram a comprar manteiga pelo menos uma vez no ano – indicador que mostra uma reação do mercado de consumo. No auge da crise, o produto estava presente em 32,94% dos lares brasileiros. Com a retomada, a participação subiu para 36,80% – superior à registrada antes da recessão, em 2014 (34,17%). O mesmo ocorreu com o azeite, que retornou à lista de supermercado de 1,4 milhão de famílias".

Mais um pouco? Vamos lá, ainda com a reportagem:
"Outro motor do consumo foi a redução do endividamento das famílias, que chegou a comprometer 22,8% da renda mensal em 2015. De lá pra cá, o indicador seguiu um movimento de queda. Segundo dados do Banco Central, em dezembro do ano passado, já estava em 19,9%."

Ou ainda:
"Cálculos do economista Maurício Molan, do Santander, mostram que o aumento da massa salarial e o recuo do endividamento dos brasileiros devem liberar cerca de R$ 124 bilhões para a economia. "Vemos um crescimento consistente do consumo neste ano, já que o emprego e a renda estão voltando. Tudo isso é muito poderoso." A expectativa é de que o varejo tenha um avanço de 4,7% em 2018 – o que deve ajudar a sustentar as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 3%."

Então vamos ver.

Tenho chamado a atenção neste blog, no rádio, no jornal, na TV e em toda parte para a recuperação da economia. Mais do que isso: critico aqueles que dizem que ela ainda não chegou às pessoas. Não é o que tenho ouvido de motoristas de táxi e de aplicativos, de lojistas, de empresários ligados à produção e até de camelôs.

Junto com tal constatação, tenho dado relevo a uma certa esquizofrenia, misturada à covardia, que toma conta do debate político. Como a opinião pública ainda é presa de uma "doxa", segundo a qual o governo Temer "é ruim", os políticos que pretendem disputar o "centro" na eleição de 2018 simplesmente ignoram as qualidades da gestão e a mudança efetiva que está em curso. Nota: havia a "doxa", na primeira semana de junho de 2013, de que o governo Dilma era "ótimo ou bom" — era essa a avaliação de 57%, segundo o Datafolha; na última semana daquele mês, o índice havia caído 27 pontos.

E onde está a esquizofrenia? Os candidatos se oferecem à opinião pública prometendo, exceção feita às esquerdas, aquilo que já está em curso, procurando, de resto, fugir de questões polêmicas, como a reforma da Previdência. É claro que a pregação política do Partido da Polícia — lava-jatismos e afins — contribui para a distorção: tanto a de opinião como a do alinhamento político. Até Rodrigo Maia, do DEM — que, obviamente, não vai deixar de ser candidato a deputado federal, com chance de presidir a Câmara de novo, para disputar o Planalto —, ao lançar a sua candidatura "fake", diz não ter compromisso com o passado — a gestão virtuosa que aí está —, mas "com o futuro", seja lá o que isso queira dizer.

Do tucano Geraldo Alckmin, também não se arranca um elogio ao governo nem debaixo de porrete; nem que fosse um aceno estratégico, já que o PMDB pode fazer uma baita diferença: em tempo de TV, em recursos, em rede de apoios, em eleitores. Todos os senhores do centro estão abrindo mão de fazer política — que é um trabalho de convencimento — para se colocar como caudatários daquela "doxa". Se eu achasse que isso pode dar certo, registraria aqui a injustiça, claro!, mas diria: "É eficaz!" Mas acho que não é.

Como informa a reportagem, "Aos poucos, as famílias brasileiras começam a retomar alguns hábitos de consumo adquiridos nos tempos de bonança da economia. Depois da longa recessão econômica que fez os consumidores cortarem ou substituírem produtos no dia a dia, a lista de compras voltou a ser incrementada com mercadorias um pouco mais caras. No lugar da margarina, a manteiga retornou à mesa; assim como o óleo de soja foi substituído pelo azeite de oliva. O requeijão, a batata congelada e o pão industrializado também estão de volta ao cardápio dos consumidores."

Sim, há muito pela frente. Vários estudos indicam que o país, se não tiver interrompida, de novo, a trajetória de crescimento, voltará só em 2021 ao patamar de consumo de 2013, o que indica a dimensão do estrago, o abismo em que nos jogou a desordem dilmo-petista. A depender do que aconteça nas urnas, essa data vai se perder no tempo. E pode acontecer o contrário: em vez da continuidade do crescimento, um novo mergulho no caos.

Lula, Ciro Gomes e esquerdistas menores, claro!, tratam o país como se vivêssemos num clima de terra arrasada. Em setores da "mídia" — porque a coisa é mais ampla do que a imprensa —, tem-se também a impressão de que o caos bate à porta. Meu WhatsApp foi inundado ontem por sugestões para que veja o que disse "Faustão" em seu programa deste domingo. Não tive tempo. Mas posso imaginar. Vou fazê-lo. O discurso do "Projaquistão" está cada vez mais previsível. Obviamente não há o que esperar desses territórios.

Já os candidatos e as forças políticas que têm um compromisso com os fatos precisam pôr a mão na consciência. Quem é que vai defender como base necessária, mas não suficiente, de sua postulação as regras do jogo que devolveram o crescimento ao país? Observem: eu escrevi "base necessária". É uma questão de responsabilidade com o país levar essas questões ao debate.

E, nesse caso, pouco importa se é para ganhar ou para perder a eleição.

Alguém terá de dizer a verdade.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.