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Reinaldo Azevedo

Finanças públicas foram assaltadas diante do silêncio cúmplice de verdadeira conspiração de covardes e aproveitadores. Vêm dias difíceis

Reinaldo Azevedo

25/05/2018 08h23

A verdade elementar, descarada, que salta aos olhos de quem quer que veja a coisa com um mínimo de juízo crítico, é a seguinte: um setor da economia enfrentava dificuldades — e quem não? — e aproveitou o clima de insatisfação do cidadão comum com o preço dos combustíveis e resolveu parar o país. E as pusilanimidades as mais constrangedoras de mostraram sem retoques. Rodrigo Maia (DEM) merece um picadeiro, não a Presidência da Câmara. Eunício Oliveira (PMDB-CE) ainda não explicou se, tentando ser esperto, pareceu apenas covarde ou se, covarde mesmo, não teve a esperteza de disfarçar. Na média, infelizmente, a imprensa não se saiu melhor. Está de tal sorte contaminada pela monomania de declarar o fim antecipado do governo Temer que não percebeu a tempo que os cofres públicos estavam sendo alvos da pistolagem praticada por nababos.

É claro que não me refiro aos caminhoneiros, mas a donos de muitos milhares de caminhões. Com a devida vênia, qualquer um com um pouco de experiência social percebe logo que José da Fonseca Lopes, que preside a Associação Brasileira de Caminhoneiros, ou Diumar Bueno, que comanda a Confederação Nacional de Transportadores Autônomos, não têm bala na agulha para armar aquilo a que se viu. E assim seria ainda que se juntassem as outras oito entidades. Na verdade, quanto mais fragmentadas são as demandas e as lideranças, mais difícil é a eficiência de um movimento paredista. As empresas de transporte é que definiram o sucesso do movimento — sucesso, claro, para quem vai meter a mão no nosso bolso.

Não dá para saber ainda o custo destes dias de balbúrdia. Mas já é possível saber de quanto será o rombo inicialmente planejado aos cofres públicos. Notem: eu chamei de "rombo inicial". A bagatela, por ora, está em R$ 8,1 bilhões. Explica-se por quê: a Petrobras deixará de receber R$ 350 milhões em razão dos primeiros 15 dias em que venderá o diesel na refinaria com 10% de desconto; o Tesouro arcará com outros R$ 350 milhões pelos 15 dias finais. Como os reajustes passarão a ser mensais, esse mesmo Tesouro terá de reembolsar a empresa em mais R$ 4,9 bilhões, e o fim da Cide sobre diesel tirará outros R$ 2,5 bilhões da arrecadação.

Eis aí o preço da irresponsabilidade. E tudo isso num país que luta contra o descalabro fiscal

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.