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Reinaldo Azevedo

Gilmar Mendes adverte contra Estado policial; e o “vermelho” que Janot quer como substituto

Reinaldo Azevedo

19/06/2017 22h35

No Brasil, há  alguns homens corajosos, que não se acovardam quando a luta se torna mais dura, que não correm para se esconder debaixo da cama. Um deles é o ministro Gilmar Mendes, do STF, também presidente do TSE. Ele conferiu uma palestra a empresários ligados ao LIDE de Pernambuco nesta segunda. E teceu, sim, críticas ao lado vicioso da Lava Jato e operações conexas. Afinal, como ignorar que o ministro faz tais restrições num momento em que Rodrigo Janot concorreu para transformar Joesley Batista, um bandido notável, em herói nacional?

Em sua palestra, o ministro defendeu "limites" às investigações. Mas que se note o sentido da palavra. O "limite" não quer dizer deixar de investigar este ou aquele, mas fazê-lo segundo regras estabelecidas pelos códigos brasileiros.

Ele se referiu, por exemplo, à forma que tomou a investigação contra o presidente Michel Temer

"Não podemos despencar para um modelo de Estado Policial, como também não se pode cogitar de investigações feitas na calada da noite, arranjos, ações controladas que têm como alvo qualquer autoridade ou o próprio presidente da República. É preciso discutir isso com muita tranquilidade. E é preciso criticar isso. Investigação sim, abuso não. Não se combate o crime cometendo. É preciso que a sociedade diga isso de maneira clara. O Estado de Direito não comporta soberanos", afirmou.

Há alguém que discorde da apuração com regras?

Ele cita ainda o caso de investigação de ministros do STJ. Mendes destacou que se estava apurando até o que já havia sido explicado de pronto, em inqueritos que não darão em nada. Para ele, o objetivo era constranger o tribunal e toda a magistratura.

Nicolao Dino
O vice-procurador-geral Nicolao Dino, que se tornou o homem de Janot na eleição da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), participou de um debate junto a pares que ambicionam a mesma vaga e, ora vejam!, decidiu criticar Mendes. É pura campanha eleitoral. Para ele, "é preciso rebater e repelir veementemente a fala de Gilmar. O MP tem atuado de forma muito correta. Difamações como essa não contribuem para a estabilidade institucional".

Ora, ora…

Não custa lembrar: Nicolao Dino é irmão de Flávio Dino, do PCdoB, governador do Maranhão e adversário severo do impeachment de Dilma. "Ah, mas Nicolao defendeu a cassação da chapa…" Sem dúvida! Isso passou a ser o desejo fervoroso das esquerdas, que estavam se lixando para Dilma. Queriam era cravar em Temer a pecha de ilegítimo, o que ajudaria a alimentar a falácia do golpe.

Não tenho a contabilidade feita, mas eu chutaria que, entre 70% e 80% das vezes (se não for mais), Mendes votou de acordo com o que queria a Força Tarefa. Ocorre que, no universo mental de Janot, alguma discordância já entra na cota de sabotagem.

Nicolao Dino é, sim, de esquerda, a exemplo de seu irmão, Flávio, o governador do Maranhão (do PCdoB), embora não seja um quadro partidário. Amigos maranhenses me dizem que supor outra coisa é pura estupidez. O homem é próximo da fina-flor do pensamento "vermelhista juramentado", como diria Odorico Paraguaçu.

Há muitas formas de ditadura, e a de opinião, já advertia Beccaria, remete ao verdadeiro tirano.  O que se nota, reitero, é que certos valentes da Lava Jato — a área institucionalmente podre — estão desesperados.

Acham que não têm mais como recuar, mas também não sabem mais o que fazer para que suas teses prosperem. Qual será o próximo passo? Dar uma rasteira no presidente, já que não conseguiram lhe puxar o tapete?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.