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Reinaldo Azevedo

Ibope 1: Conversa de que Bolsonaro caminha para vencer no 1º turno é, por enquanto, sonho de inverno; os número estão bem longe disso

Reinaldo Azevedo

19/09/2018 06h43

A turma de Jair Bolsonaro (PSL) espalha o boato de que está em curso uma vitória já no primeiro turno. Por enquanto, considerando os números do Ibope, isso é uma quimera. São estratégias para enfrentar os 18 dias que nos separam do primeiro turno. Vamos ver.

A pesquisa Ibope, divulgada nesta terça, que traz Jair Bolsonaro em primeiro lugar, com 28% das intenções de voto, e Fernando Haddad, com 19%, parece indicar um segundo turno entre o candidato do PSL e o do PT. Na simulação, os dois aparecem rigorosamente empatados, com 40%. No dia 20 de agosto, segundo números do instituto, Bolsonaro tinha 20% das intenções de voto. Um mês depois, tem 28%, um crescimento de 40%. No período, Haddad foi de 4% para 19%, um salto de 375%. Isso significa que o ungido de Lula vai ultrapassar o adversário? Não! Isso quer dizer que está em curso uma transferência maciça de votos de Lula para aquele que assumiu o seu lugar na chapa — e numa velocidade superior à imaginada pelos petistas e pelos adversários.

O que escapa pelas margens da antevisão do partido é a resiliência de Ciro Gomes, que, agora, no Ibope, fica num terceiro lugar já distante, mas com ainda apreciáveis 11%, e o fraco desempenho de Geraldo Alckmin. Não deixa de ser curioso, mas a marca muito baixa do tucano é que preocupa os petistas neste momento porque, por óbvio, ele não cresceria sobre votos que iriam para Haddad. O que se esperava é que capturasse eleitores de outros candidatos conservadores e que tomasse alguns de Bolsonaro. Dados os números do Ibope, no entanto, isso não aconteceu.

Em uma semana, Alckmin oscilou de 9% para 7%, e o candidato do PSL, de 26% para 28%. Três outros candidatos conservadores oscilaram para baixo no período: Henrique Meirelles (PMDB), João Amoêdo (Novo) e Álvaro Dias (Podemos) foram de 3% para 2%. Há que se ficar atento a esse trânsito. Ainda que esses dados tenham se movido na margem de erro, que é de 2 pontos para mais ou para menos, notem que os nomes à direita perderam cinco pontos (incluindo os dois de Alckmin), mas Bolsonaro ganhou apenas 2. Na semana em questão, no entanto, Haddad disparou incríveis 11 pontos.

Ocorre que a diferença de Haddad em relação a Bolsonaro é considerável: nos extremos da margem de erro mais favoráveis ao PT, pode ser de 5 pontos; nos mais desfavoráveis, de 13. Se o PT tivesse como, daria um jeito, hoje, de turbinar a candidatura de Alckmin para que arrancasse votos de Bolsonaro.

Vitória no primeiro turno? Está longe!
A conversa de que Bolsonaro pode ganhar no primeiro turno é, por enquanto, um sonho de inverno. Levando-se em consideração os números do Ibope, que aponta 14% de votos brancos e nulos, Bolsonaro estaria hoje com 32,5% dos válidos. Ainda que, em razão da margem de erro, os inválidos sejam 16% e que Bolsonaro tenha 30%, chegaria a 35,7%.

Há outros elementos a considerar. É possível que a transferência de votos para Haddad diminua de ritmo, mas tudo indica que ainda não tenha acabado. O petista avançou em todas as regiões, mas em especial no Nordeste: passou de 13% para 31% em um mês. Ocorre que Lula chegou a ultrapassar a marca de 50% na região. O petista também cresceu no Sudeste: de 6% para 15% — mas, nesse caso, fica bem atrás de Bolsonaro, que tem 29%. Entre os que ganham cinco salários mínimos ou mais, o candidato do PSL está com com 41%, mas conta com apenas 12% entre os que recebem até um mínimo.

De todo modo, o PT passou a ficar atento ao risco de uma disparada do adversário. E chegou à conclusão de que a amenização do discurso para não empurrar eleitores do centro para a órbita de Bolsonaro terá de ser operada já no primeiro turno.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.