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Reinaldo Azevedo

Imigração venezuelana faz Jucá renunciar à liderança do governo no Senado. Ou: Não é aceitável fechar fronteira ou deixar como está

Reinaldo Azevedo

28/08/2018 06h11

Romero Jucá (PMDB-RR) não é mais líder do governo no Senado. Não há rompimento com o presidente Michel Temer. Trata-se apenas de uma tentativa de sobrevivência. E a decisão nada tem a ver com impopularidade da gestão — que é muito alta, mas está em queda. A questão que está pegando é mesmo a imigração venezuelana.

Há um clamor no Estado pelo fechamento da fronteira, o que o governo federal se nega a fazer, no que está certo, diga-se. A prática corresponderia a uma agressão a princípios básicos da civilidade, da solidariedade entre os povos e da política externa brasileira. Por outro lado, compreende-se a angústia da população local, especialmente em Boa Vista, a capital. É claro que a chegada de milhares de pessoas do país vizinho traz consigo uma penca de problemas: da violência à demanda por serviços públicos, em especial de saúde, que já atende mal às necessidades dos roraimenses.

A fala de Jucá foi eloquente:
"Eu não tenho condições de defender Roraima, criticar o governo e ocupar o cargo de líder. Seria incompatível, eu não ficaria confortável. Entre o cargo de líder, o governo federal e o estado de Roraima e a população de Roraima que me elege e que eu tenho que defender, é claro que eu opto sem nenhuma dúvida pela população."

Ele aparece em terceiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, mas nega que isso esteja na raiz de sua decisão. Até porque deixa claro não confiar nesses números. Ainda que estivesse em primeiro, o fato é que, hoje, no Estado, um político que se oponha ao fechamento da fronteira está assinando um divórcio com a população. E, como o senador deixa claro, depende dela para se reeleger.

E a situação se agrava a cada dia. Até porque a escala de loucura que toma conta do governo de Nicolás Maduro parece não ter teto. Agora ele decidiu "esquentar a economia" vendendo ouro a uma população de famélicos. Em seu governo, os índices de pobreza se multiplicaram por dois. Maduro vende barrinhas de ouro a quem não tem comida no prato. O "Socialismo do Século 21" se tornou um pesadelo.

Se fechar a fronteira não é a solução, não parece também que deixar tudo como está seja a resposta. Os imigrantes venezuelanos vão se esparramando em barracas e acampamentos pelas ruas de uma Boa Vista, que já está longe de oferecer a amplas camadas de seu próprio povo uma vida invejável.

Fazer o quê? Talvez se devesse estudar a instalação de um campo de refugiados, sob a supervisão de autoridades locais, da ONU, do Ministério Público Federal, de entidades de defesa dos direitos humanos etc.

Estivesse a situação venezuelana próxima de um desfecho, vá lá. Mas não está. E o episódio da venda de ouro deixa claro que um celerado está no poder, disposto a provocar ainda muitos outros desastres. A camarilha militar que lhe dá suporte também está infiltrada pelo crime. Logo, não existe solução rápida. Uma coisa é certa: manter a fronteira aberta, nos termos de agora, deixou de ser parte da solução e passou a ser um problema.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.