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Reinaldo Azevedo

Janaína, cotada para vice de Bolsonaro, diz que seu papel é “abrandá-lo”. É triste! No Roda Viva, na prática, ele reiterou frase sobre o estupro

Reinaldo Azevedo

01/08/2018 08h09

Janaína Paschoal durante convenção do PSL, que sagrou Jair Bolsonaro candidato à Presidiência: a abrandadora…

"Penso que meu papel seria abrandá-lo. A caneta é do presidente. Mas, ao menos na minha área, parece que vai ouvir. Já reviu a ideia de aumentar o número de ministros. Bom sinal."

A fala é da advogada Janaína Paschoal ao "Painel", da Folha.

Refere-se ao recuo do candidato do PSL, que teria desistido da ideia, digamos assim, "bolivariana" — e ele já foi um admirador de Hugo Chávez — de aumentar de 11 para 21 o número de ministros do Supremo.

Também teria mudado a sua opinião sobre maioridade penal aos 16 anos — a advogada é (ou era?) favorável aos 18, com hoje. O candidato teria topado… 17!

Uma ala do bolsonarismo quer, sim, Janaína como vice. Acha que isso ameniza a imagem um tanto, bem…, rústica do demiurgo. Ademais, é uma mulher, não é? Para o autor da frase imortal, segundo a qual não estupraria a deputada Maria do Rosário "porque ela não merece", além de "ser muito feia", seria um potencial ganho. O eleitorado feminino, composto de mulheres que, segundo a clivagem bolsonarista, "merecem" e "não merecem" ser estupradas, é o que mais resiste a seu charme intelectual.

Considero sinceramente uma pena ver Janaína nesse território, achando que seu "papel" é "abrandar" Bolsonaro, aquele que nega a essência da escravidão — nada menos do que o esteio do modelo mercantil — e que tem o desplante de dizer que participou da operação que resultou na morte de Lamarca. Ele tinha, à época, 16 anos e não pertencia ao Exército. Participou como? Segundo diz, cortava palmito no Vale do Ribeira e conversava com os militares. Entendi. Seu papel no combate à Lamarca era bater papo.

Bem, as pessoas são livres para fazer o que bem entendem de sua biografia. Se Janaína acha que a parte que lhe coube no latifúndio do destino humano é abrandar Bolsonaro, quem sou eu para contestar?

O general Hamílton Mourão, do PRTB, também teria voltado às cogitações para vice. Sei. É o homem que disse em entrevista que considera a militância bolsonarista "meio boçal".

Não estou certo se o general reformado também estaria empenhado em abrandar o capitão reformado.

Não custa lembrar: no programa "Roda Viva", Bolsonaro repetiu a frase dita sobre Maria do Rosário sem revê-la, negá-la ou lhe corrigir o conteúdo. E ainda buscou abrigo na imunidade parlamentar.

Ou por outra: na prática, ele disse a frase pela terceira vez: em 2003, em 2014 (origem da ação contra ele no STF por apologia do estupro e injúria) e nesta segunda, 30 de julho de 2018.

Luiz Fux, o homem que, na condição de presidente do TSE, fica por aí a antecipar juízos de inelegibilidade sem que tenha sido provocado para isso, como exige a lei, é o relator, no STF, do processo contra Bolsonaro. Está sentado sobre o dito-cujo.

Apostando que o relator vai garantir a sua impunidade, Bolsonaro, então, reincide, reitera e tripudia.

Sem abrandamento possível nessa questão.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.