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Reinaldo Azevedo

Lava-Jato, MPF, PF e direita xucra, que são os Partidos da Polícia, nos deram uma única certeza: Lula! Ou: Vejam o caso da Itália!

Reinaldo Azevedo

07/03/2018 06h29

Beppe Grillo: partido criado pelo pateta conquistou um terço dos votos… A alternativa é a turma de Berlusconi, sempre às voltas com a Polícia

Pesquisa CNT/MDA divulgada nesta terça-feira dá conta do quanto, fôssemos, como brasileiros, uma unidade na diversidade, estamos brincando com o perigo. E, até agora, a marcha da irresponsabilidade só faz aumentar. Vejam o caso do ministro Roberto Barroso, do Supremo. Tudo indica que ele está empenhado numa luta pessoal para derrubar o presidente Michel Temer. E conta com poderosos veículos de comunicação a lhe fazer a assessoria de imprensa e a lhe cantar as glórias. A economia vai bem; o país está, sim, saindo do abismo em que Dilma Rousseff, do PT, o jogou; as perspectivas econômicas são positivas. Mas a política segue refém dos Partidos da Polícia.

Segundo o levantamento CNT/MDA, Lula (PT) segue líder isolado na intenção de votos para o primeiro turno, com 33,4% das intenções de voto. Dada a margem de erro de 2,2 pontos para mais ou para menos, o petista pode estar na faixa dos 35%, como apontam outros institutos. E, como se nota, não há notícia negativa para ele que mude isso. Em segundo lugar, está Jair Bolsonaro (PSL), com 16,8%. Marina Silva (Rede), com 7,8%, e Geraldo Alckmin (PSDB), com 6,4%, vêm tecnicamente empatados em terceiro. Ciro Gomes (PDT), com 4,3% pode estar perto de Alckmin, e Álvaro Dias (Podemos), com 3,3%, perto de Ciro.

O fato é que, como diria o poeta Camões, a certeza só está na inconstância. Lula sabe que não será candidato. E isso só indica que alguma coisa vai acontecer, o que inclui qualquer coisa. Por quê? Nos cenários em que o ex-presidente está fora da disputa, Bolsonaro salta para o primeiro lugar, mas sem nunca superar a casa dos 20% (20,2% e 20,9%). Marina fica em segundo, na faixa dos 13% (13,4% e 13,9%). Alckmin ainda não alcança os dois dígitos e aparece em terceiro, com 8,6% ou 8,7%, empatado com Ciro (8,1%).

A má notícia para a estabilidade democrática é que, sem Lula, os brancos e nulos ficam pouco acima de 28%, e 10% se declaram indecisos. Explica-se: 27,6% dizem ser ele o único candidato em que votariam. E, é fato, o petista não disputará.

Há sinais nada positivos nos números do segundo turno. Lula venceria todos os seus opositores com os pés nas costas: Alckmin: por 44,5% a 22,5%; Bolsonaro: por 44,1% a 25,8%; Marina: por 43,8% a 20,3%. Sem o chefão petista na disputa, Bolsonaro aparece tecnicamente empatado com Alckmin, mas numericamente à frente (26,7% a 24,3%) e também com Marina (27,7% a 26,6%). Ocorre que, nesse caso, brancos e nulos podem variar de 39% a 42,5%. Somem-se aí as ausências, e poderíamos ter mais da metade do eleitorado sem participar, na prática, do pleito.

Os números apontam que vivemos sob o signo de uma anomalia. Como eu vinha alertando desde o fim do ano retrasado, o trabalho constante do Ministério Público, da Polícia Federal e da direita xucra — que compõem os Partidos da Polícia — ainda iriam ressuscitar Lula eleitoralmente. Ressuscitaram. Ocorre que ele não poderá disputar.

Se o eleitor fizer o que diz que fará nesse caso, o petista tem condições de emplacar um indicado seu no segundo turno — e até em primeiro lugar: dizem que votarão em quem ele escolher, não importa o nome, 16,4% — notem que isso corresponde ao eleitorado de Bolsonaro; outros 26,4% poderiam fazê-lo.

Aí se estabeleceria uma luta para saber que candidato de centro tentaria desbancar Bolsonaro do segundo lugar. PSDB e PMDB estarão unidos? Ninguém sabe. Marina e Álvaro Dias devem ser candidatos. Tiram voto do tal centro. E Ciro? Ainda não estou convencido de que não fará um acordo com o PT.

Vejam a que maravilha nos conduziu esse moralismo xucro do lava-jatismo porra-louca. Ele nos lega uma única certeza: Lula! Que não vai disputar. Todo o resto é uma selva escura.

A Itália paga até hoje o preço da Lava Jato deles, a Operação Mãos Limpas, que devastou a classe política do país. Na eleição deste fim de semana, a coligação que chegou em primeiro lugar é a do bufão Silvio Belusconi, com 37% — dentro dela, o partido mais votado é a Liga Norte, neofascista: com 17,37%. Em segundo lugar, ficou o Movimento Cinco Estrelas, um troço fundado por um humorista ridículo, Beppe Grillo, que tem como plataforma o ódio à política e aos políticos: ficou com 32,66%. O futuro, também lá, é a selva escura.

Só que a Itália é um dos sete países mais ricos do mundo, que há muito venceu as agruras da pobreza. Consegue se virar até quando vai muito mal.

Recém-saídos do caos econômicos, os valentes decidiram dançar por aqui à beira do abismo.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.