Locaute e reação da sociedade indicam que o ciclo de instabilidade será longo: é grande a chance de o futuro eleito não concluir mandato
O locaute, a reação da sociedade e as concessões feitas pelo governo indicam que estamos num ciclo de instabilidade institucional. Será longo. Ciclos são marcados por regularidade e reiteração de eventos e por fenômenos que se conectam em série. É como se existisse, de fato, um "espírito do tempo" a deitar sua sombra fatalista sobre a história.
É bobagem, mas a ideia é sedutora. Este escrevinhador considera estar além das suas sandálias responder se, afinal, há uma "causa não causada" para tudo o que existe. No debate público, prefiro o universo das coisas causadas.
Sociedades passam por desajustes que levam a reajustes e à formação de novos consensos. Diante da ameaça do colapso, as forças que contam adotam ou acatam medidas protetivas em defesa do sistema que lhes garante voz, identidade e voto.
O que se viu no Brasil não é inédito na história, mas é raro. Assistimos a um flerte com o suicídio coletivo —e, dentro deste, algo ainda mais exótico, que é o suicídio de retaliação: "Vou me vingar com a autoimolação". Exemplifico: sindicatos ligados ao agronegócio chegaram até a oferecer tratores para bloquear as estradas. Na pauta dos grevistas, desde sempre, estavam a majoração e o tabelamento do frete, o que eleva brutalmente os custos do… agronegócio.
Em 1959, "White Wilderness", produzido pela Disney, ganhou o Oscar de melhor documentário. Retratava o suicídio coletivo dos lêmingues, roedores que promovem migrações em massa atendendo ao instinto de… sobrevivência! O "documentário" é um misto de ignorância e farsa. Mas a Disney pode se redimir. Os brasucas estamos por aqui. Topamos saltar do abismo, cair no oceano e nadar, por nada, até que as águas traguem a nossa exaustão. Somos os verdadeiros roedores de presentes promissores e de amanhãs que não virão.
(…)
Dificilmente o próximo presidente conclui o mandato.
Ciclo longo.
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