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Reinaldo Azevedo

Maia atuou contra Temer; criou dificuldades para assessores do Palácio falarem com deputados

Reinaldo Azevedo

26/10/2017 08h37

Rodrigo Maia durante votação do relatório sobre denúncia contra o presidente. Nunca a ambição exibiu antes  tal cara de tédio (Foto: Dida Sampaio)

Afirmei ontem aqui que o governo poderia comemorar se conseguisse mais ou menos os mesmos números obtidos na primeira denúncia, certo? E foi o que aconteceu, com uma variação pequena quando se considera o universo votante. Antes, alinharam-se com o relatório pró-Temer 263 parlamentares; agora, 251. Na jornada anterior, 227 opuseram-se ao presidente, desta feita, 233. As respectivas diferenças são irrelevantes. Quem sai, de fato, perdendo é o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Se, na primeira denúncia, o presidente da Câmara ficou inerte em campo — não se deslocou para receber a bola, não fez lançamentos, não marcou, não pressionou a linha de defesa adversária —, desta feita, note-se, ele atuou como zagueirão. Mas um zagueirão do time adversário, embora seja aliado do presidente Michel Temer. Por ocasião da primeira investida de Rodrigo Janot, o homem se limitou a dialogar com notórios inimigos do governo. Participou, não custa lembrar, de ao menos uma reunião cuja pauta era a queda do presidente — e este estava fora do país. Sua máquina de propaganda fez chegar à imprensa até aquele que seria o seu ministério.

E, acreditem, ele estava sendo discreto. Agora não! Fico com um ato que é mais do que simbólico nesta quarta. Maia, pessoalmente, criou dificuldades para que assessores do Palácio do Planalto falassem com os deputados, o que é normal quando o governo tem demandas na Casa. Vocês entenderam direito. Usou o seu cargo para tentar impedir o governo de conquistar eventuais votos hesitantes. Sabendo ser impossível conseguir os 342 contra o presidente, ele queria ao menos derrotar o relatório em favor de Temer, de autoria do deputado Bonifácio de Andrada. A turma do Palácio teve de apelar aos líderes partidários.

Só isso? Não! Maia queria mesmo encerrar a sessão. Não estava brincando. Embora houvesse mais de 400 deputados na Casa, muitos parlamentares não registravam presença. A irresponsabilidade de setores da imprensa ao noticiar o estado de saúde do presidente colaborava para o impasse. Atenção! Uma regra ditada pelo Espírito Santo, já que não está em lugar nenhum, estabeleceu que a sessão só poderia ser iniciada com 342 deputados. Vá lá. Todos toparam a invenção por ocasião da primeira denúncia, embora ela seja estúpida. Mas deixo isso pra lá agora.

Num dado momento, havia 328 deputados na Casa, e o doutor ameaçou pôr fim à sessão. Como um César de si mesmo, um Napoleão de hospício, o Rei Sol de Brasília, afirmou: "Eu estou aqui desde as 9 horas da manhã…" Parecia fazer, assim, uma grande concessão a Temer e ao país. Ora, qual concessão? Estava apenas cumprindo o seu papel.

O seu tédio durante a votação foi além da linha do desrespeito. Parecia estar lá torturado por alguma ideia fixa, que não o abandonava de jeito nenhum. E posso bem imaginar qual fosse… Ou achava que a Presidência da República deveria ser sua por merecimento divino. Ou, então, percebia que seu protagonismo, ao contrário do que dizem seus aspones e plantadores, terminava ali.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.