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Reinaldo Azevedo

MINHA COLUNA NA FOLHA: Bolsonaro acerta quando recua e erra quando avança. Ou: Abaixo o Unicef e viva a caça aos ursos da Virgínia...

Reinaldo Azevedo

16/11/2018 06h48

Sou fã dos recuos de Jair Bolsonaro. Até agora, eu os defendi a todos, sem exceção, antes mesmo que o presidente eleito voltasse atrás. Fusão da Agricultura com o Meio Ambiente? Bobagem. Insistir numa reforma da Previdência ainda neste ano? Bobagem. Extinguir o Ministério do Trabalho agora? Bobagem.

Transferir as universidades para o Ministério da Ciência e Tecnologia? Bobagem. O problema não está em mudar de ideia. Preocupante é não ter ideia do que fazer.

Os tais mercados, por enquanto, se divertem fazendo de conta que política não existe. E que as regras podem ser livremente governadas pela vontade. Em reunião do futuro presidente com governadores eleitos, anunciou-se a intenção de Paulo Guedes de dividir com os estados e municípios parte dos recursos do leilão do pré-sal, que poderia render de R$ 100 bilhões a R$ 130 bilhões.

É a velha engenhoca da "política de governadores", ineficaz com a Constituição que temos. Sem ajustes severos nos estados, a grana do petróleo pode fechar um rombo aqui, outro ali, e tudo seguirá na mesma. Vai ser preciso renegociar, de novo, as dívidas. No Congresso.

Junto com a crise nos estados, bate à porta a reforma da Previdência —esta, sim, considerada a mãe do sucesso ou insucesso, junto aos mercados, da gestão Bolsonaro. O problema, e o presidente eleito já o percebeu, é que o endosso dessa crítica especializada, sem efeito nas urnas, não coincide com apoio popular. E ainda está para ser inventada mudança nessa área que seja popular.

Uma pergunta: Bolsonaro correria o risco de ver esmorecer o entusiasmo com o "mito" para fazer a coisa certa? Há um "gap", ou "delay" de entendimento, entre as potenciais medidas liberalizantes de Guedes e seus efeitos positivos para a população.Esse descompasso costuma resultar em mau humor dos pobres e remediados.
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Caso exemplar desses dias é a resposta que o presidente eleito deu ao que considera um Itamaraty ineficiente. Prometeu para a pasta um chanceler que daria prioridade aos negócios, não à ideologia. O escolhido é Ernesto Araújo.
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No ensaio "Trump e o Ocidente", em que trata o presidente americano como salvador e a ONU como expressão de uma era que tem de chegar ao fim, Ernesto escreve: "O presidente Trump propõe uma visão do Ocidente não baseada no capitalismo e na democracia liberal, mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais." Vamos vituperar contra o Unicef e celebrar a caça ao urso na Virgínia.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.