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Reinaldo Azevedo

Minha coluna na Folha: PT inverte Shakespeare e inventa o método com loucura. E truculência fascistoide bate à porta do regime democrático

Reinaldo Azevedo

10/08/2018 07h51

"Ah, PT, quae te dementia cepit?" Parafraseio o poeta latino Virgílio na "Segunda Écloga", embora a fala "Ah, Corydon, quae te dementia cepit?" seja reflexiva –isto é, o pastor Corydon pergunta a si mesmo: "Que loucura te pegou" ao se perceber apaixonado, não mais dono da própria vontade.

Por mais que alguns colegas analistas queiram ver método na decisão do PT de lançar o que a internet se diverte chamando de "candidatura tríplex", não tenho como não saltar uns séculos, até Shakespeare, indo do lirismo condoído à tragédia, e inverter o sentido da frase de Polônio ao comentar as maluquices de Hamlet, aquele atraente destruidor de reinos. Fica assim a minha adaptação sobre a estratégia petista: "É método, mas tem loucura".

Entrevistei nesta quinta Fernando Haddad em evento promovido por um banco de investimento. Ele é "candidato a vice" na chapa petista à Presidência, que terá Lula como titular, até que o TSE bata o martelo e declare a inelegibilidade do ex-presidente, com referendo certo do STF.

Fiz a Haddad a pergunta tão óbvia como necessária: é possível governar o país em nome de outra pessoa? É razoável um exercício terceirizado da Presidência, esteja o titular simbólico na cadeia ou no paraíso?

Como a idade e a independência me garantem a faculdade de dizer tudo, ainda que sob o preço de aborrecer as pessoas –não tendo o nariz de Voltaire, procuro ao menos o senso de pertinência impertinente–, observei, sim, que Lula foi condenado sem provas no processo do tríplex. Ruim para o Estado de Direito? Ruim. Mas há o mundo de fato. E o candidato já é Haddad, embora seja proibido reconhecê-lo nas hostes petistas.

Uma jornalista se apresentou antes do início do evento: "Sou da assessoria do presidente Lula". Meu primeiro impulso foi indagar: "Ele já chegou?" Não o fiz porque seria um constrangimento inútil a quem, afinal, cumpria as exigências metódicas da loucura.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.