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Reinaldo Azevedo

Minha coluna na Folha: tiros em Aristóteles! Lula, da cadeia, dando as cartas e um Bolsonaro viável são filhos de Deltan, Janot e Sérgio Moro

Reinaldo Azevedo

17/08/2018 08h17

Deltan Janot e Moro: sob o pretexto de combater a corrupção — e ninguém decente pode ser favorável a ela —, esse trio conduziu o país à beira do abismo político: entre um presidiário e um lunático

O ministro Roberto Barroso, relator no TSE do pedido de impugnação da candidatura de Lula, é um notório legislador sobre o já legislado.

Pode, com uma piscadela, constitucionalizar tanto o aborto de fetos humanos como a proteção às vacas. Ele se explica citando um Kant mal-ajambrado e nem se despenteia. É provável que, desta feita, ele substitua seu Kant pelo avesso por canja de galinha, morta sem maus-tratos.

O PT que pensa quase implora para que ele ceda aos apelos de Raquel Dodge e declare liminarmente a inelegibilidade de Lula. Quanto mais o veto ao petista se assemelhar a um ato de força, melhor para a mística partidária e a campanha eleitoral.

O ainda candidato e seu partido conseguiram meter a política e o Judiciário num transe. Explica-se o pano de fundo: como o petista foi condenado sem provas —e foi!— e como está preso ao arrepio do Inciso LVII do Artigo 5º da Constituição —e está—, e como, adicionalmente, se deu de barato que seguir "a letra fria da lei" prejudicaria a Lava Jato, teme-se agora que o triunfo de alguma heterodoxia conduza o país aos caos.
(…)
Como esquecer que foi o desprezo à forma da lei que nos jogou à deriva? Os juízes heterodoxos de antes tentam se apegar agora ao que deveria ser a prática corriqueira nas democracias: a aplicação da lei em sua literalidade, quando ambiguidade nenhuma a corteja ou lhe turva o sentido. E a Lei da Ficha Limpa, já escrevi, pode ser burra, mas é clara. Permanece, no entanto, a questão: como impedir Lula de estrear no rádio e na TV como candidato?
(…)
Entes que se arvoraram em gerentes ou gendarmes da democracia não se mostram dispostos a voltar para a caixinha da Constituição. Um exemplo? A Polícia Federal está em movimento para eleger diretamente o diretor-geral. Rogério Galloro, atualmente no cargo, concede entrevista e deixa claro que descumpriu uma ordem judicial escrita e impressa e preferiu seguir embargos auriculares. Estivesse naquele 8 de julho com o telefone desligado, Lula teria sido solto. Eis o "policialismo" a ocupar o território da política, um dos caminhos do bem, segundo Aristóteles. Quem é esse? Chega de citações! Fogo nele! Nota à margem: você acha ruim o Congresso que temos? Espere o próximo.

O quadro eleitoral que aí está é o mais notório rebento da herança viciosa da Lava Jato. Sem articulações heterodoxas, Lula estaria a dias de voltar para o Palácio do Planalto depois de tudo o que se sabe sobre o seu partido.

Em segundo lugar, eis Jair Bolsonaro, aquele que quer combater a epidemia homicida no Brasil distribuindo portes de arma. Para matar Aristóteles! É seu jeito de ver "o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos", inclusive, claro! de Aristóteles…

Resta torcer para que o eleitorado nos livre das artimanhas do tinhoso, onde se contam os "politicidas" e os demagogos da moral.
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.