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Reinaldo Azevedo

Moro usa para seu compadre e amigo critério que não vale para os outros. Afinal, quando dar crédito à palavra de bandido?

Reinaldo Azevedo

27/03/2018 08h47

Rodrigo Tacla Durán: suas acusações foram solenemente ignoradas. Nesse caso, e só nesse, Moro não dá ouvidos a palavra de criminoso

Sérgio Moro também deu uma bela escorregada em outro tema. Reproduzo trecho da Folha:
Em outro tema espinhoso, Moro respondeu sobre o ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Durán, investigado na Lava Jato, que acusou o advogado Carlos Zucolotto, amigo e padrinho de casamento do juiz, de tentar mediar acordo paralelo de delação premiada com integrantes da força-tarefa.
"Esse indivíduo fez essas afirmações. É uma fantasia que não existe base concreta", disse. "O que se tem é uma pessoa acusada de crimes graves. Afirma que é advogado, mas tem US$ 17 milhões bloqueados em Cingapura. Várias pessoas dizem que ele teria envolvimento com lavagem. Inventou essa acusação para ver o juiz afastado do caso", disse
.  

Entendi.

A síntese da fala de Moro poderia ser esta: "Não acredito em palavra de bandido".

Venham cá: quantos foram os bandidos e corrutos confessos que ajudaram Sérgio Moro a fazer a sua fama? Quando o "bandido" o coloca na berlinda, então não se deve dar trela; quando o bandido acusa aqueles que são os seus alvos, seu testemunho vai parar na sentença, é isso?

Sem dar crédito a bandidos, para onde teria ido a Lava Jato?

Acho que a resposta do doutor pode ser lida de outra forma: "É bom que vocês saibam que existe um critério para mim e para os meus amigos e um critério distinto para os outros. Quando está em questão alguém do meu círculo de relações, o acusados só pode ser um bandido; quando se trata de alguém que estou disposto a botar em cana, então a palavra de notórios marginas e canalhas recebe o nome de 'colaboração'".

Bem, convenham, boa parte da imprensa engole tudo o que ele diz.

Então por que ele não diria?

Carlos Zucolotto, amigo de Moro, seu padrinho de casamento e ex-sócio de sua mulher, pode ser inocente como as flores. Mas a resposta de Moro é muito ruim. As desconfianças, suspeitas e acusações que existem contra Tacla Durán não devem servir de atestado da sua inocência. Ou se deveria desconfiar da palavra de todos os bandidos da Lava Jato que se tornaram delatores, certo?

"Ah, mas é que, no caso dessas delações, houve investigação", alguém poderá dizer.

É verdade. No caso do compadre de Moro, não houve.

Parece que ele está acima da investigação.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.