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Reinaldo Azevedo

MPF sugere relação ilícita entre Teixeira e presidente da Fecomércio-RJ mas não diz qual

Reinaldo Azevedo

23/02/2018 18h02

Você encontra na Folha , no Estadão  e em toda parte reportagens sobre a prisão de Orlando Diniz, presidente da Federação do Comércio do Rio. Ele é alvo da Operação Jabuti, que é desdobramento da Operação Calicute, que é desdobramento da Operação Lava Jato. Logo, haverá um desdobramento também da Jabuti. O Ministério Público Federal e a Polícia Federal inventaram a "Tática Matrioska" de investigação. Vocês devem conhecer aquelas bonecas russas que sempre traz em seu interior uma menor. Dividir a investigação em fases intermináveis e em suboperações é puro marketing. É um jeito de não sair do noticiário.

Muito bem! A Operação Jabuti apura se Diniz usou o esquema de lavagem de dinheiro que teria sido montado pelo ex-governador Sérgio Cabral. Segundo o MPF, há um pagamento de R$ 20 milhões para o escritório de Adriana Ancelmo, mulher de Cabral. O MPF acusa o empresário de ter se valido de R$ 180 milhões de verba do Sesc e Senac com serviços de advocacia que teriam sido contratados fora de padrões técnicos.

Muito bem! A investigação da Operação Jabuti, insista-se, consiste em apurar os vínculos entre Diniz e Cabral.

Mas sabem como é… O MPF aproveitou a prisão para fazer uma das suas. Em entrevista, como de hábito, os senhores procuradores informam que a Fecomercio repassou, ao longo dos anos, R$ 68,3 milhões para o escritório de Roberto Teixeira, que defende Lula nas ações penais de que é alvo.

Os procuradores, no entanto, avisam:
– Essa relação não está sob investigação;
– Roberto Teixeira não é alvo da Jabuti;
– o caso nada tem a ver com a investigação que envolve Cabral.

Os doutores disseram "estranhar" o valor, mas não fizeram nenhuma acusação. Só jogaram o troço no ventilador. Fui verificar. De fato, o escritório de Teixeira representa a Fecomercio numa penca de ações. Se o pagamento de R$ 68,3 milhões é muito para o trabalho feito e se há crime nessa relação, resta ao MPF, então, apresentar as evidências.

Claro! A coisa ganha áreas explosivos, não é? Afinal, é o escritório que defende Lula. O ruído que se espalha é que o escritório que defende o ex-presidente recebeu R$ 68,3 milhões da Fecomércio. Ah, sim: a ex-mulher de Diniz diz que o marido pagou R$ 1 milhão em espécie a Teixeira em 2012. Não fica claro qual seria o crime também nesse caso.

Vamos ver…
Eu realmente não sei, nem você, leitor amigo, se o pagamento foi ou não indevido. O que é que eu sei, com certeza?
a: não cabe ao MPF aproveitar-se de uma investigação para espalhar uma ilação que nem está sob investigação;
b: não cabe ao MPF fazer a sugestão de que houve cometimento de crime;
c: se o MPF tem indício de crimes, que os apresente ao juízo e peça as primeiras providências;
d: não havendo ainda elementos, que continue a apurar;
e: Seja contra Teixeira, seja contra o Seu Zé da Esquina, é inaceitável que o MPF atue como mero agente de fofoca, na certeza de que contará com o beneplácito da imprensa.

Isso precisa acabar. Até agora, a gestão de Raquel Dodge nada fez contra isso. Teixeira e qualquer outro podem ser investigados, havendo elementos para tanto. Absurdo é que o MPF venha a público para sugerir que há uma relação espúria em curso, embora confesse não saber qual é.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.