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Reinaldo Azevedo

O PSDB e a conversa mole de que se pode sair da base e apoiar as reformas. Ou: A acomodação

Reinaldo Azevedo

23/08/2017 07h26

O que vai acontecer com o PSDB? As coisas tendem a uma acomodação na precariedade, ao equilíbrio instável. De saída, é preciso que se diga: erra quem sustenta que a crise em curso se deve ao esforço do senador Aécio Neves (MG) de voltar ao comando. Isso é apenas uma mentira. Mas é verdade que a fratura exposta provocada pelo programa no horário político evidenciou que o mineiro ainda exerce influência considerável no partido. Ah, sim, também é preciso desmontar uma farsa retórica à qual se entregam alguns tucanos ditos "cabeças negras". Há o risco de que até eles próprios acreditem na lorota que contam.

Vamos ver.

O senador Tasso Jereissati (CE) assumiu interinamente o comando do partido para manter a unidade possível. Não é que ele foi tentar justamente a impossível? Lançou-se de arma em punho contra o governo e praticamente "decretou" que o partido deveria deixar a base. Bem, na votação da Câmara, que negou a autorização ao STF para processar Michel Temer, o Tasso interino foi derrotado: 21 votos a favor, 22 contra e quatro ausências — a rigor, perdeu por 21 a 26.

Mas o homem, como a raposinha de "O Pequeno Príncipe — e jamais como uma raposa de "O Príncipe" — não se deu por vencido. Resolveu levar ao ar um programa que ataca de frente nada menos do que quatro ministros de Estado: Aloysio Nunes (Relações Exteriores), Bruno Araújo (Cidades), Antonio Imbassahy (Relações Institucionais) e Luislinda Valois (Direitos Humanos). No cargo, eles seriam expressões do "erro" do PSDB. A menos que acatem a pecha de fisiológicos e mixurucas.

Bem, o pau comeu na casa de sinhá, certo?  E há, sim, embora não deva ser magnificado, o risco de o partido sofrer perdas significativas. Convenham, no entanto, que a interinidade de Tasso vai apenas até dezembro. Falta pouco. Provocar uma ruptura agora pra quê? Se for o caso, até esta pode esperar um pouco.

É bom lembrar: Aloysio, Imbassahy e Araújo, que reagiram com indignação ao programa, não são porta-vozes de Aécio na empreitada  de recuperar a presidência do partido. Os deputados que hoje ameaçam deixar a legenda se Tasso permanecer no comando também não são peões desse suposto jogo. Ocorre que o presidente interino deu duas alternativas aos tucanos: concordar com ele ou levar a marca de fisiológico.

Uma ruptura formal dessa magnitude requer alguém no comando. O único que poderia fazê-lo, convenham, é Aécio. A lógica indica que isso, agora, não faz sentido. De resto, note-se à margem: essa é apenas umas das dissensões no tucanato. Há outras. O governador Geraldo Alckmin (SP), por exemplo, afirmou nesta terça que Tasso tem de ficar até dezembro. Certamente João Doria irá no mesmo sentido. E, acho, as concordâncias param por aí.

Assim, parece-me, as coisas caminham mais para a acomodação no curto prazo do que para o racha. Até porque ele não interessaria a ninguém. Naquele estilo altivo de sempre, Tasso andou disparando uns "cospe aqui se for macho", dizendo que pagava para ver, mas é claro que é só retórica. Ele até poderia vencer um embate, mas depois cumpre que ele pergunte ao general Pirro se certas batalhas valem a pena.

Lorota
Finalmente, cumpre desmontar uma falácia. Essa história de que o eventual desembarque do PSDB da base não altera o seu compromisso com as reformas é conversa para embalar tolos. Altera! Ainda que os tucanos digam "sim" a todas as mudanças, é preciso ver o que dirão os outros em razão dessas tucanices:

a: com a eventual saída do PSDB, aumentaria o peso relativo do Centrão no governo; muitos deputados desse grupo preferem que o presidente Temer deixe essa história de Reforma da Previdência pra lá;
b: para aprovar algumas propostas, o Planalto precisa exibir força, musculatura; desconfie do vigor mudancista de um partido que defende uma tese que enfraquece o governo reformista.

Alguns ditos "cabeças negras" do tucanato — e a de Tasso já está bem branca, o que poderia ser sinal de prudência — não enganam nem a tintura de cabelo que usam. Querem cair fora do governo porque sabem que isso dificultaria as reformas, e eles não teriam de levar adiante esse "peso" eleitoral.

Sim, o fingimento, em larga medida, é parte da política. Como não sou nem serei político, não preciso fingir. E, se necessário, desconstruo a representação burlesca.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.