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Reinaldo Azevedo

Os dois discursos de Temer: disciplina e continuidade das mudanças

Reinaldo Azevedo

19/12/2017 02h40

O presidente Michel Temer fez dois discursos nesta segunda-feira. Um deles na Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB. O outro a oficiais generais das Forças Armadas durante almoço.

Na fundação, a fala eminentemente política. Afirmou:
"Quem for candidato a presidente e dizer que vai continuar ou que terá um governo também de reformas, estará cravando na sua campanha eleitoral a tese do acerto do nosso governo. E estará gravado governo Michel Temer no programa que vai ser estabelecido para o futuro por nós, que ousamos fazer uma revolução na política administrativa e econômica do nosso país".

Não chamarei de resposta a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, porque o mais não responde ao menos. Mas foi, sim, um contraponto a certas forças políticas, das quais Maia faz parte, que acreditam que podem usufruir do poder efetivo que lhes dá o governismo, sem, no entanto, arcar com o ônus da governabilidade.

Há mais: o governo Temer, como lembrou em entrevista à Folha nesta segunda o senador Romero Jucá (PMDB-RR), tem muito o que mostrar e tem um legado a defender. E haverá um candidato a fazê-lo. Quem será? Difícil saber a esta altura, mas poderá ser o próprio Temer.

Jucá deu a fórmula, que está correta: terá de ser alguém que demonstre que pode ganhar. E só vai demonstrar que pode ganhar quem souber unificar os partidos que caminham no centro do espectro ideológico. E isso compreende a defesa da herança do governo Temer. Ou o PMDB terá seu nome.

É o correto.

No almoço com os oficiais-generais, o presidente defendeu a necessidade de reinstitucionalizar o país e afirmou que nós, como povo e como cultura, não temos muito apreço pela disciplina. Vai acabar tomando pancada de todo lado por ter dito a coisa certa — repetindo, aliás, sociólogos que pensaram profundamente a questão, como Gilberto Freyre e Sergio Buarque de Holanda.

O que representa o "homem cordial", definido em "Raízes do Brasil" senão esse desapego à disciplina, que não distingue o público do privado e que dá pouco apreço às instituições.

O presidente está pensando direito e está fazendo um governo que tirou o país da mais aguda crise econômica de sua história. Sua obra tem de ser continuada.

Quem se dispõe a fazê-lo?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.