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Reinaldo Azevedo

Parente 4: Recuperar a monopolista Petrobras dos escombros arrancando do bolso do povo os recursos é fácil; duro é pôr o Brasil na conta

Reinaldo Azevedo

02/06/2018 09h09

Deixo claro que me opus, desde sempre, à pressão em favor da demissão de Pedro Parente. Também chamei o que se viu na tal greve por aquilo que foi: banditismo. Defendi, desde o primeiro dia, que as Forças Armadas liberassem as estradas por bem ou por mal. Critiquei o governo por ter negociado com pessoas que bloqueiam estradas. Eu não estou entre os 87%, segundo o Datafolha, que apoiaram o movimento. Ao contrário: cobrei e cobro cadeia para os chantagistas.

Mas isso não pode servir de pretexto para obscurecer o pensamento. O Brasil vem da maior recessão de sua história. A renda média que o brasileiro tinha em 2013 deve se recuperar — e a conta era de quando havia otimismo pela frente — só em 2023. O desemprego ainda é brutal. E a Petrobras, a monopolista do refino, era parte dessa equação do desastre.

Muito bem! Pode-se pôr lá um presidente — E, INFELIZMENTE, ELA NÃO É UMA EMPRESA PRIVADA QUE CONCORRA COM OUTRAS EMPRESAS PRIVADAS — que pense na monopolista segundo, também, o país que a abriga e a situação objetiva de seus acionistas majoritários: o povo. E se pode fazer de conta que a tal empresa monopolista está abrigada na Lua, em Marte ou na Noruega.

Está correta a chamada "política de desinvestimento" implementada por Pedro Parente. Mas a sua política de preços era, para ficar no paradigma, um barril de pólvora. Aliás, ele próprio ouviu um figurão do primeiro escalão do governo, que está longe de ser esquerdista ou heterodoxo, dizer ao presidente Michel Temer que a sociedade brasileira não estava aceitando a política de preços da Petrobras.

Convenham: é fácil demais tirar do bolso do consumidor, dia a dia, o custo da variação do barril — que oscila segundo os humores de Donald Trump, dos aiatolás do Irã, dos mulás das Arábia Saudita, do delinquente Nicolás Maduro — e da cotação do dólar, sujeita aos humores da política. Enquanto os brasucas, com renda deprimida, topam pagar a conta, a coisa vai bem. Difícil é quando eles dizem: "Não topo".

E o momento chegou.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.