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Reinaldo Azevedo

Peço desculpas a Joesley Batista, ex-pulha que, agora, é herói. Só Janot é melhor do que ele

Reinaldo Azevedo

21/07/2017 07h11

Joesley Batista agora diz que vai processar jornalistas.

Joesley Bastista, parece, vai levar à barra dos tribunais os que o chamaram de bandido, criminoso, salafrário e sinônimos que não são de salão.

O fundamento dos seus advogados é o seguinte: depois da delação, dado que ele não foi acusado de crime nenhum pelo Ministério Público Federal, então, a rigor, ora vejam, criminoso não é.

Entendo. Eu me considero, como posso dizer?, um formalista em direito. Por exemplo: acho, sim, que a OAS tinha reservado aquele tríplex para Lula. Era expressão da intimidade entre o ex-presidente e as empreiteiras. O homem facilitava negócios para seus amigos, e eles eram generosos. Querem saber? Há até a possibilidade de que o petista realmente não achasse ser aquele um ato corrupto. Mas, se é como digo, claro que era.

Qual foi o erro do MPF? Vincular o imóvel a três contratos em particular. E Sérgio Moro aceitou a denúncia. Qual foi o erro do juiz em sua sentença? Condenar Lula sem que os procuradores tenham apresentado provas daquele vínculo. Ou por outra: um magistrado condena ou absolve com base nas provas apresentadas em face da denúncia oferecida. Fora disso, acho que se abre o caminho para o arbítrio. Logo, sou um formalista. E acho que, sem forma, não existe direito. Adiante.

Assim, quero dizer que entendo a iniciativa de Joesley.

Não sei se estou na lista. Se estiver, talvez seja o caso de retirar. Eu vou me desculpar com ele. Quero corrigir o mal que eventualmente lhe tenha feito. E, mesmo sem um acordo formal, cumpro a minha parte, corrigindo-me de eventuais escorregões.

Se a unção de Rodrigo Janot, ao aceitar a delação, faz de Joesley um homem puro como as flores, é preciso que eu ajuste o verbo. Segundo esse parâmetro, posso, então, escrever que:

– até seu acordo com Rodrigo Janot, homologado por Edson Fachin, Joesley foi um dos maiores criminosos do Brasil; em ocorrências, o maior;

– até seu acordo com Rodrigo Janot, homologado por Edson Fachin, Joesley foi um dos maiores salafrários do Brasil; ele confessou, por exemplo, a compra de quase dois mil políticos;

– até seu acordo com Rodrigo Janot, homologado por Edson Fachin, Joesley foi um dos maiores sacripantas do Brasil; enquanto a propaganda do produto de uma de suas empresas falava em "confiança", ele se dedicava a negociatas.

Então me parece que a gente pode chamar Joesley de ex-criminoso, ex-bandido, ex-salafrário, certo?

Ocorre-me, a propósito, que, depois de ter ganhado aquele boi (ops!) de Janot — a imunidade total —, Joesley, o ex-pulha, pode reivindicar também o direito ao esquecimento. Quem sabe algum juiz criativo mande tirar da Internet todas as referências negativas, que liguem o empresário a seu passado de crimes.

Pois é…

Imaginem um jornalista condenado porque chamou Joesley, que confessou 245 ações criminosas, de "bandido". O coitado, duro por natureza, não poderá nem fazer delação premiada. Afinal, seu crime foi só este. Nada mais tem a revelar. Fosse um bandidaço, do tipo que comanda organização criminosa, teria o que negociar com Rodrigo Janot e seus plantonistas da moral.

Reitero meu pedido de desculpas, caso tenha cometido a falha, claro!, ao ex-pulha, ao ex-ordinário, ao ex-corruptor ativo.

Devem ser mentirosos os boatos que dizem que ele também vai reivindicar um lugar na galeria dos heróis nacionais. Afinal, convenham, não fosse aquele que já chamei de "açougueiro das instituições", não teríamos chegado a esse momento fabuloso do combate à impunidade no Brasil, não é mesmo?

Chegou a hora, minha gente, de fazer um grande mea-culpa.

Nunca houve no Brasil um herói como Joesley Batista.

Ele só perde mesmo para Rodrigo Janot.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.