Pence, vice de Trump, no Brasil: fiel ao líder, foi cordato em reservado e grosseiro em público
Em meio às tensões causadas pela detenção de 51 crianças brasileiras nos Estados Unidos, o vice-presidente americano, Mike Pence, cobrou maior empenho do Brasil para solucionar a crise migratória no continente e para isolar o regime de Nicolás Maduro na Venezuela.
Em visita a Brasília, Pence aproveitou para fazer uma advertência dura a imigrantes ilegais da América Central, de onde sai a maioria dos imigrantes com destino aos EUA.
"Para as pessoas da América Central, tenho um recado para vocês, do coração: queremos que suas nações prosperem e vocês não arrisquem suas vidas e as de seus filhos tentando vir para os EUA. Se vocês não conseguem vir legalmente, não venham; cuidem de suas crianças e construam suas vidas em seus países de origem."
Em declaração à imprensa após encontro com Temer e almoço no Itamaraty, Pence afirmou que o governo americano está trabalhando para reunir as famílias, entre elas, "as famílias brasileiras que foram pegas nessa onda de imigração ilegal".
Desde que foi implementada a política de tolerância zero com imigração ilegal pelo governo Trump, mais de 2300 crianças foram detidas, separadas de suas famílias.
"Deixe-me ser claro: os Estados Unidos têm sido o país mais acolhedor para imigrantes em toda a história da humanidade", afirmou.
Pence, no entanto, ressaltou que o país está investindo como nunca na segurança de suas fronteiras. "Quero dizer a todas as nações da região, com todo o respeito: da mesma maneira que os EUA respeitam suas fronteiras e sua soberania, insistimos que vocês respeitem as nossas."
O tom de Pence causou mal-estar entre integrantes do governo brasileiro, que não esperavam cobranças na declaração à imprensa, mas, sim, promessas de pronta resolução do problema das crianças brasileiras.
(…)
O americano afirmou que todos os países do hemisfério precisam ajudar a garantir a estabilidade de países vizinhos aos Estados unidos, para que as pessoas desses países —principalmente Honduras, Guatemala e El Salvador— fiquem em suas próprias casas, em vez de emigrar.
"Por isso, hoje digo ao nosso aliado Brasil: chegou a hora de vocês fazerem mais."
Segundo pessoas que participaram do almoço no Itamaraty e do encontro com Temer, Pence foi muito mais cordato a portas fechadas, longe das câmeras.
(…)
Por Patrícia Campos Mello, na Folha