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Reinaldo Azevedo

Por que os parlamentares da base evitam deixar claro seu apoio ao governo? É fácil saber!

Reinaldo Azevedo

03/07/2017 16h12

Coragem, o Cão Covarde: ele não tem medo de tremer nas bases

Consta que o presidente vai atuar pessoalmente junto a deputados da base que integram a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), que faz a primeira avaliação da denúncia apresentada por Rodrigo Janot. Hoje, o Planalto contabilizaria 34 dos 66 votos da comissão. Deveria contar com 42, uma vez que apenas 24 pertencem a partidos que estão na oposição.

Assim, 18 ainda estariam indecisos. Não sei se a palavra é bem essa.

A Folha tentou ouvir os deputados. Apenas 45 afirmaram que rejeitarão a denúncia. Dizem que vão aceitá-la 130. Informaram não saber 112 dos ouvidos. Cinquenta e sete preferiram não revelar sua posição. E nada menos de 168 não responderam a enquete.

Sabem quantos são os deputados formalmente de oposição? Apenas 136. Vale dizer: a base de apoio conta, em tese, com 377 votos. Não obstante, apenas 45 têm a coragem de declarar voto a favor do governo.

Descartadas a covardia inata e a deslealdade adquirida, que não são irrelevantes, dois medos contam bastante: Rodrigo Janot e Organizações Globo. O primeiro, como sabemos, é um tanto sanguinolento. Quanto à segunda… Quem não quer aparecer de herói no Jornal Nacional, a exemplo dos destemidos Randolfe Rodrigues, a soprano do golpe, e Alessandro Molon, a consciência crítica da orla endinheirada da Zona Sul?

Olhem aqui, fosse a denúncia de Janot o Moisés do direito, uma verdadeira obra de Michelangelo da evidência de culpa, esse resultado seria compreensível. Mas não é. Muito pelo contrário. A peça é reconhecidamente frágil. O próprio procurador-geral admitiu, ainda que de forma oblíqua, não ter as provas na entrevista que concedeu na Abraji (Associação Brasileira dos Jornalistas investigativos).

Eis aí uma diferença considerável entre os que querem depor Temer e os que não querem. Os primeiros, todos de partidos de esquerda, agem como força unida. Por ali, ninguém quer saber de nuances: agem como força unida.

Já os que compõem a base não têm essa força centralizadora.

Ora, pensemos no PT: dos 136 votos oficiais da oposição, o partido tem nada menos de 58. Quem é hoje a comandante da turma? A senadora Gleisi Hoffmann (PR), aquela que, mesmo depois de morta politicamente (a senadora é ré), tornou-se rainha: foi guindada à Presidência do PT.

Assim, enquanto sete de oito tucanos da CCJ tendem a votar contra Temer, embora o partido tenha quatro ministérios, os vermelhos reúnem seus investigados em ordem unida, sob o comando de uma… investigada, e gritam "Fora, Temer!"

A tucanada que assim procede imagina que, ao se livrar do peso de ser governo, transitará com mais leveza na disputa eleitoral. Nenhum deles se perguntou por que o PT ainda tem o candidato favorito em 2018… Ninguém menos do que o chefão inconteste do partido que fez o petrolão.

A população certamente não gosta de ladrões se indagada a respeito, mas notem que pode até flertar com reputações duvidosas. Tenho para mim, no entanto que, insuportável mesmo, ainda que a reação seja intuitiva, é a covardia.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.