Topo

Reinaldo Azevedo

Postulante ao Planalto, Doria congela IPTU de SP no ano eleitoral de 2018

Reinaldo Azevedo

12/09/2017 18h43

Na Folha:

Mesmo com restrições orçamentárias, a Prefeitura de São Paulo não vai aumentar o valor do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) acima da inflação no ano eleitoral de 2018. O ajuste deve ficar em torno de 3%, anunciou o prefeito João Doria (PSDB) nesta terça-feira (12).

Doria trava uma disputa interna no PSDB com o governador Geraldo Alckmin para a escolha do candidato do partido nas eleições à Presidência no ano que vem. Alckmin teve papel decisivo na escolha de Doria como candidato tucano na disputa municipal.

Para ser candidato ao Planalto ou ao governo paulista em 2018, o prefeito terá de deixar o cargo até o início de abril (seis meses antes da eleição).

O aumento do IPTU traria desgaste com a opinião pública, como aconteceu no início da gestão anterior, do ex-prefeito Fernando Haddad (PT). Ele sofreu um revés na Justiça, que barrou durante um ano o IPTU que seria reajustado em 2014. O imposto atualizado só foi aplicado em 2015, quando o TJ (Tribunal de Justiça) entendeu que havia legalidade no reajuste.

Com a decisão de Doria, a administração abre mão de aumento na arrecadação. Em 2017, a previsão é que a cidade arrecade R$ 8,2 bilhões em IPTU, perdendo apenas para o ISS (R$ 12,7 bilhões). O orçamento total da cidade é de R$ 50,8 bilhões.

Não é possível saber ao certo quando o município arrecadaria a mais com um novo reajuste. Para se ter uma ideia, com a última atualização, a gestão Haddad estimou arrecadação adicional de R$ 700 milhões (cerca de 11% à época).

LEGISLAÇÃO

Por lei, a cada quatro anos, a prefeitura deve revisar a Planta Genérica de Valores (PGV), que é a base de cálculo para o IPTU e fixa os valores venais dos 3,4 milhões de imóveis (entre comerciais e residenciais) da cidade.

Neste ano, a gestão optou por não revisar a tabela.

A medida, porém, já gera polêmica. Isso porque, sem a atualização da planta, Doria estaria ignorando lei do antecessor Fernando Haddad (PT), que exige a revisão a cada quatro anos. Assim, a gestão tucana teria que fazê-la neste ano, já que a última mudança ocorreu em 2013.

No Legislativo Paulistano, tanto o opositor Antonio Donato (PT) como vereadores da base aliada –caso de José Police Neto (PSD) – disseram que Doria terá que mandar um projeto à Câmara para alterar a legislação, já que ela obriga a revisão periódica.

A prefeitura diz que o fará. "Legalmente, nós temos que enviar um projeto de lei esse ano. Aí tem duas alternativas: fazer alguma modificação na lei, legal, que nos permita postergar essa decisão [de aumentar o IPTU], ou enviar de fato um projeto de lei com a planta da maneira como está, sem alterações", disse o secretário Municipal da Fazenda, Caio Megale. "A mais fácil é simplesmente postergar a decisão, mas a gente vai avaliar o que for melhor."

REAJUSTE MAIOR

Apesar do anúncio divulgado como "boa notícia", cerca de 30% dos imóveis podem ter um reajuste maior que 3%.

São residências ou estabelecimentos comerciais que tiveram alta acima da inflação no último reajuste de IPTU, aplicado na gestão Haddad.

Na ocasião, após críticas sobre possíveis aumentos excessivos do imposto, a gestão petista criou travas de até 10% de aumento para imóveis comerciais e 15% para comerciais. Contribuintes que tiveram aumentos superiores a esses tetos têm que pagar os valores residuais nos anos posteriores. Por exemplo: se o IPTU teve um aumento real de 40% numa casa, o dono do imóvel sofrerá o reajuste de 10% estendidos pelos quatro anos de vigência da PGV.

A prefeitura, no entanto, afirmou que o aumento pode acontecer no decorrer da gestão. "Os parâmetros do mercado ainda estão um pouco disfuncionais [por conta da crise econômica], de forma que fazer uma revisão mais ampla neste ambiente, uma revisão dos 3,4 milhões de imóveis da prefeitura, nos pareceu não muito prudente. Mais para frente, com o mercado estabilizado, a gente vai ter uma noção melhor de onde estarão os preços de mercado", afirma Megale.

Em março passado, a Folha antecipou que a gestão Doria não iria aumentar o imposto.

Na ocasião, o subsecretário da Fazenda, Pedro Ivo Gandra, disse à reportagem que a expectativa era que não houvesse altas devido a uma estimada desvalorização imobiliária do ano passado para cá.

Até o fim do próximo ano, o governo do Estado deve concluir a linha 5-lilás do Metrô e entregar estações na linhas 4-amarela e 15-prata, o que valoriza os imóveis na região e tornaria desvantajoso fazer o ajuste de acordo com o preço atual.

Para suprir o deficit na arrecadação, Megale cita um aumento pelo terceiro trimestre consecutivo na arrecadação do ISS, esforços para combater a sonegação e o Programa de Parcelamento Incentivado, que parcela dívidas com a administração e já arrecadou R$ 200 milhões, segundo a prefeitura. O prazo para adesão ao programa vai até 31 de outubro.

Além disso, a prefeitura calcula que deve economizar R$ 700 milhões em relação ao orçamento aprovado para este ano.

Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, a prefeitura perde a oportunidade de aumentar as receitas com o congelamento do imposto. "Tudo indica que é uma decisão que tem cálculo em 2018, porque o aumento do IPTU sempre causa um forte desgaste", diz o pesquisador. Ele afirma ser arriscado apostar no aumento da arrecadação do ISS, imposto sobre serviços, que reflete o cenário econômico. "Nenhum economista aposta que a recuperação econômica vá ser um espetáculo."

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.