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Reinaldo Azevedo

A Coreia do Norte venceu a guerra contra os EUA e contra o mundo civilizado. Fim de papo!

Reinaldo Azevedo

04/09/2017 14h00

Kim Jong-un: sobrou ao mundo ao menos um pouco de humor. Fazer o quê? Circula das redes…

Bill Clinton poderia ter posto o rabo de Kim Jong-Il, o pai de Kim Jong-un, entre as pernas. Não o fez. George W. Bush foi o último com condições de botar aquela canalha pra correr, ainda que a um custo gigantesco. Depois, não mais. Aí ficou tarde. Tudo indica que, no segundo governo Bush, já não havia mais o que fazer. Agora, é tarde para qualquer coisa. Contente-se em assistir ao espetáculo de bufonaria de Donald Trump. Numa coisa, ao menos, boa parte da humanidade concorda: quando ele e o anão tarado da Coreia do Norte trocam farpas, a gente se dá conta de que o mundo pode, com efeito, ser um lugar bem perigoso. E de mau gosto.

O que chega a ser tragicamente cômico nisso tudo é que a gestão Clinton fez entendimentos ainda com o avô do atual líder norte-coreano, Kim Il-sung, e depois com o pai (Kim Jong-Il), arrancando um compromisso de congelamento da agenda nuclear. Mas todo mundo sabia que era de mentirinha. O programa secreto continuava. Com a ascensão de Bush, o risco não diminuiu, mas a hipocrisia acabou. A Casa Branca meteu a Coreia do Norte no chamado "Eixo do Mal", o dos países que representam ameaças aos EUA, e cessaram as colaborações. A Coreia do Norte deixa o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares em 2003 e faz um teste meio mixuruca em 2006.

Muito bem. No domingo, o país anunciou aquele que seria o seu teste nuclear mais potente: uma bomba de hidrogênio. Aconteceu? Aconteceu. Os meios de segurança dão como certo que os norte-coreanos desenvolveram tecnologia para dotar mísseis de longo alcance com uma ogiva nuclear. Se você considera o Alasca território americano, amiguinho, então é o seguinte: analistas sérios avaliam que, sim, o Anão Tarado já pode atingir o território americano com um míssil. Nem é preciso dizer que a Coreia do Sul e o Japão são alvos, digamos, mais próximos…

O que fazer? Houvesse uma resposta razoável, já teria sido adotada. Mas não há. Trump e os seus prometem uma reação como nunca antes na história do Armagedom se Kim Jong-un atacar território aliado. Tudo fica no terreno das conjecturas e das palavras de muitos megatons, que, na prática, não significam nada.

Pouco antes de cair, Steve Bannon, o chamado estrategista de extrema-direita de Trump, disse aquela que talvez tenha sido a única coisa sensata numa vida que só faz sentido na era das redes sociais. Ao tratar da possibilidade de um ataque americano à Coreia do Norte, afirmou: "Até que alguém resolva a parte da equação que mostra que 10 milhões de pessoas morrerão em Seul nos primeiros 30 minutos pelo uso de armas convencionais, eu não sei do que estão falando, não há solução militar aqui. Eles nos pegaram".

O que resta aos EUA? Bem, meus caros! A Coreia do Norte não existe. Sua economia é uma fração da economia chinesa, que é quem dita os rumos por ali. Parece que a melhor saída é Trump virar a cara e passar a fazer caretas, caras e bocas sobre assuntos diversos. E que a estrovenga seja jogada sobre o colo da China. Ao país gigante não interessa um aliado que crie esse tipo instabilidade. As sanções econômicas não terão o menor efeito prático no país. As políticas são irrelevantes porque aquele regime não é deste mundo. E não existe solução militar que não implique um custo humanitário talvez sem precedentes.

Isso quer dizer uma coisa, meus queridos! Essa guerra, os EUA já perderam. E só os idiotas comemoram porque, de verdade, quem perdeu a batalha foi a humanidade. Perdeu-a para a irracionalidade, para o delírio de poder, para a estupidez.

Obviamente, o responsável por isso é o ditador norte-coreano. Qualquer tentativa de comparar o delinquente com Donald Trump é um de uma estupidez moral asquerosa. Isso não quer dizer, no entanto, que não fosse desejável um líder com uma leitura da realidade um pouco mais complexa. É estupefaciente que o presidente americano esteja lutando parte dessa guerra com suas armas no Twitter.

Mundo bárbaro!

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.