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Reinaldo Azevedo

A pior religião do séc. 21 é a da destruição; deve estar sendo ensinada nos lares e nas escolas

Reinaldo Azevedo

02/10/2017 21h28

A jornalista Liliana Pinheiro, minha amiga, escreveu um belo texto no Facebook. Também, ela gostou, como gostei, da entrevista concedida à Folha pelo jornalista Thomas Friedman, articulista do New York Times, publicada no domingo.

Liliana é uma — ou "um dos", se é que tais palavra ainda englobam todos os gêneros e variações — profissionais mais competentes e intelectualmente honestas com que trabalhei nesta trajetória já nem tão curta. Nunca a vi escrever sobre o que não sabe. Quando quer saber, vai a fundo e faz o melhor. Sua amizade sempre me deixou muito honrado.

Reproduzo o texto dela na íntegra e trato sobre os despidos de bom senso do MAM e no MAM. Leiam.
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A entrevista inteira é interessante, mas selecionei um trecho. É do Thomas Friedman, articulista do New York Times.

Foi dada para a Folha e publicada na edição de hoje, domingo. O Globo havia dado entrevista quase igual no início de setembro, de modo que não há ineditismo.

O trecho que escolhi diz respeito a esse "mercado da raiva" em que tantos andam investindo. Mais fácil mobilizar para a destruição, do que para a construção.

Como concordei!

Creio que sempre foi assim. Ocorre que agora há ferramentas à disposição de todos, e a adesão à "raivosidade" se dá, no meu entendimento, sem um pingo de consciência.

Vivo falando aqui do excesso de "causas" desses nossos dias. As pessoas fingem, até para si mesmas, que estão em luta contínua. Que estão "mobilizadas".

Isso não é verdade e não seria nem mesmo possível. Trata-se apenas do vício na crítica. Nada nem ninguém escapa de bala.

No Brasil, o exercício diário de uma certa superioridade moral, concedida por ninguém, está saindo de todos os limites. No mundo, é a mesma coisa.

Eu me afastei levemente de muita gente julgadora nos últimos anos. Desde aquela que não formula absolutamente nada — apenas decreta que o mundo é babaca e reacionário — até o outro tipo, mais sofisticado, que esmaga qualquer construção com o peso da própria arrogância.

De fato, se raiva pudesse ser exportada, também o Brasil estaria nadando em dinheiro.

A pior religião do século 21 é a da destruição. Desconfio que esteja sendo ensinada nos lares e nas escolas, sob o manto do espírito crítico e laico.

Ensina-se o sentimento. Sem conteúdo. Formam-se exércitos de julgadores. Tão brutos como vazios. Guerreiros são assim.

Jornalistas e professores têm muito a ver com isso. Mas não só.

Aí vêm Trumps, Bolsonaros e outras tranqueiras. Os examples estão à direita, em consonância com o vento político atual, mas na esquerda eles também abundam, à espera de uma nova chance histórica.

E os adoradores profissionais da destruição fingem não ter nada com isso. No fim, até se dão bem. Nunca vi uma liderança do caos sem Plano B. Formam seus exércitos — as fileiras da ignorância estão aí para isso mesmo — e se mandam.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.