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Reinaldo Azevedo

As 40 horas apagadas por Joesley e a acusação de um cujo sobre o suposto roubo do seu furo

Reinaldo Azevedo

31/08/2017 23h44

Contam-me, e me contam mesmo porque não leio por falta de tempo (e, houvesse, faltaria estômago), que um rapaz que trabalha para o site "O Antagonista", especializado em "humor & negócios", me acusa de ter roubado um furo dado por ele, a saber: que a Polícia federal havia recuperado 40 horas de gravação do aparelho entregue para perícia por Joesley Batista. Quarenta horas que o açougueiro de instituições havia deliberadamente apagado. Ainda voltarei ao tema, mas aí mais distante da cloaca do capeta.

Como sabe a equipe que trabalha comigo na BandNews FM, onde ancoro o programa "O É da Coisa!", quando recebi a informação, falei: "Temos um furo aqui. Vou abrir o programa com ele". E disse o que era. Antes, encarreguei-me de certificar a veracidade da informação. Depois, pesquisei para saber se algo parecido havia sido publicado nos sites dos grandes jornais e nos portais. Não havia nada.

Não! Não me ocorreu consultar a tal página porque, já disse, não faço e não farei isso. Como é normal, no começo, eu a lia, sim, com regularidade. Diogo Mainardi chegou a me pedir que ajudasse a divulgá-la, como está registrado em e-mail. Não o fiz porque, de cara, ex-contratados da "Veja" resolveram fazer um ataque à revista que considerei injusto. E expus meus motivos. Disse que daria um tempo.

Não houve tempo. Com uns dois meses na praça, os meus então "dois amigos" de "O Antagonista" iniciaram uma campanha de ódio contra mim. Se gratuita, não sei. Dívida a cobrar eles não tinham. Há coisa de um ano, Diogo me escreveu propondo um reatamento da amizade. Declinei educadamente. Recorram à Internet para saber o que já falei a respeito da dupla (o outro é Mário Sabino) e o que a dupla já falou a meu respeito. Essa deve ser a terceira vez que me refiro àquela página.

Volto ao furo
Sim, o tal emprega a palavra "roubar" para se referir ao tal furo. Seu post, com a informação da recuperação dos arquivos, com efeito, é das 16h15 — ou, ao menos, é o que está lá. Sendo assim, furo dele. Que fique! Em seu lugar, em vez de fazer futrica no Twitter, tentaria saber por que a repercussão, até então, era nenhuma. E a informação é sabidamente importante. Esse negócio de gritar a toda hora "olha o lobo" cola por algum tempo.

O uso do cachimbo entorta a boca para os vocábulos.

Não, cara!

Não roubo nada!

Não roubo ninguém!

Não roubo patrão!

Não roubo furo!

Não roubo a honra alheia!

Nem trabalho para ladrões da boa-fé pública.

O furo jornalístico mais importante que dei neste ano não depende de conversa nas sombras entre meganhas e especuladores. Depende de pensamento. Meu grande furo foi antever que gente como vocês contribuiria para ressuscitar as esquerdas. Tanto prenderam "Lula amanhã" que acabaram virando uma caricatura.

Dizem-me também que, há dias, essa mesma página anunciou a disposição de Rodrigo Janot de se filiar à Rede para disputar o governo de Minas. Publiquei em março que o doutor mirava o Palácio da Liberdade. E sabia disso desde fevereiro. Aliás, foi um dos assuntos da minha conversa com Andrea Neves, criminosamente vazada ou pela Polícia Federal ou pela Procuradoria Geral da República, numa manifestação explícita de vingança.

E eu não fui ao Twitter reivindicar nada. Também não vivo de chupinhar notícias alheias, cortando o essencial quando a notícia desafia meu viés ideológico ou meus interesses comerciais objetivos — ou os dos que mandam em mim. Até porque ninguém manda em mim.

No tal vazamento, diga-se, o que custou meu pedido de demissão à VEJA, aceito sem resistência, foi justamente o fato de eu ter feito, na conversa com Andréa, uma dura crítica a reportagem da revista que a tinha como personagem principal. Era um bate-papo privado, entre jornalista e fonte, que jamais deveria ter vindo a público. Até porque nada tinha a ver com a investigação nem trazia evidência de crime. Mas veio. Eu sabia que a fala seria considerada uma deslealdade. Ainda que, em defesa de uma garantia constitucional que havia sido violada, decidissem me tolerar por lá, tinha clareza de que o encanto se quebrara. Seria impossível continuar.

Pois é… Vejam como sou: tenho mais dificuldades de criticar hoje a VEJA do que antes. Fica parecendo despeito, ressentimento, vingançazinha, mesquinharia. A menos que um ex-patrão queira encher meu saco, e então haverá briga, eu não encho o saco de ex-patrão. Não sou otário a ponto de assinar atestado de otário. Também não ataco amigos pelas costas. Ou os que têm a pretensão de ser meus inimigos.

As paredes falam. Consta que o vazamento da minha conversa foi motivo de comemoração em "O Antagonista". Não duvido. Uma pessoa me assegura que foi a página a receber o vazamento. Não dei crédito. Teria de supor que o "Buzzfeed", o primeiro veículo a publicar o absurdo, estava apenas lavando a origem da informação. E eu não tenho prova nem de uma coisa nem de outra. E eu me oponho a acusações irresponsáveis. Não sou repórter de beira de cadeia nem me dedico à fofoca.

Também se anteviu por lá, com satisfação evidente, que eu estaria liquidado. Afinal, "o cara que se orgulha dos quatro empregos perdeu dois em meia hora." É verdade! Acontece que, na hora seguinte, eu tinha mais ofertas de trabalho do que a força humana pode desempenhar.

Feita a correção, rapaz!

Se eu fosse ladrão, e vocês sabem do que falo, acho que não seria burro a ponto de bater a carteira alheia à luz do dia.

Como continuarei a não ler o que produzem ou reprocessam, tendo algum furo, tomarei o cuidado de fazer uma espécie de cabeçalho: "Se 'O Antagonista' ainda não publicou, eis um furo…"

Não roubo nem o que vocês podem dar eventualmente  — furos — nem o que não podem: honestidade intelectual.

E paro por aqui.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.