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Reinaldo Azevedo

Bolsonaro no PA! A agenda: pelas armas e contra a pedofilia e o politicamente correto. Agora vai!

Reinaldo Azevedo

05/10/2017 22h36

Jair Bolsonaro, um dos vice-líderes da corrida presidencial — ainda não se sabe por qual partido —, esteve nesta quinta em Belém, no período dos festejos da festa do Círio de Nazaré. Iria fazer palestra no auditório de uma loja, mas, aí, sabe cumé… O local era pequeno. Juntou gente demais. E, tudo indica, quem gosta de Bolsonaro não gosta de ouvir "não". Quando ficou claro que não haveria local para todos, os revoltados quebraram a porta do estabelecimento.

Quando os partidários do deputado gostam de alguma coisa, podem distribuir alguns sopapos. Quando não gostam, também.

Aí ele discursou sobre um trio elétrico.

E mostrou estar afinadíssimo com os problemas do Brasil. Disse que, se for presidente, todos terão porte de armas.

Excelente!

O Brasil tem uma média de 53 mil homicídios por ano. Segundo o Mapa da Violência, entre 1980 e 2014, morreram no Brasil 967.851 pessoas vítimas de armas de fogo. Em 1983, elas respondiam por 38,6% das ocorrências; em 2004, atingiu a marca de 70,7%. E se estabilizou. A estabilização chegou com o Estatuto do Desarmamento, que não proíbe a venda legal de armas — eu me opus à proibição, noto, no referendo de 2005 e me oporia ainda hoje.

Mas isso, e deixava tal opinião clara àquela época, não significa que eu defenda que as pessoas devam se armar. Algumas inteligências, digamos, simples têm dificuldades de lidar com dados complexos, especialmente quando uns parecem contradizer os outros, e todos fazem parte da realidade.

É claro que há mais armas circulando nos EUA do que no Brasil. Todos conhecem a facilidade com que se compra uma arma naquele país. Não obstante, andamos na casa dos 26 mortos por 100 mil habitantes, e aquele país, em 4,5. As cabeças ocupadas por imensas solidões logo concluem: se assim é, o porte de arma não interfere no número de homicídios.

Pois é… O mundo não é tão plano assim. É evidente que a circulação de armas é um aspecto do problema — relevantíssimo. Sozinho, não explica tudo. Pobreza, urbanização precária, desordem legal, presídios em petição de miséria… Temos, em suma, uma história que é muito nossa. Ademais, a diferença de qualidade de vida é abismal. Se você pretende realmente saber se a circulação de armas faz ou não diferença na taxa de homicídios, compare os EUA com os países que tenham um IDH próximo. Portugal talvez exiba a maior taxa de homicídios da Europa com elevado grau de desenvolvimento humano: chega perto de 1 por cem mil. ISTO MESMO: UM! Na Alemanha, oscila em torno de 0,7%, o mesmo da Espanha.

Como chegamos a ter um candidato que disputa o segundo lugar nas pesquisas eleitorais — o primeiro é Lula… — e considera uma prioridade a concessão de porte de armas para todos os brasileiros?

Bem, ao longo dos anos, dos meses, dos dias, acho que tenho esmiuçado aqui as razões.

Essa direita populista e virulenta só contribui para fortalecer as correntes de pensamento à esquerda e distorcem os valores da direita liberal, tão adversária — e alvo — desse fascismo caboclo como dos esquerdistas.

Acho admissível do ponto de vista lógico, embora abominável, que alguém se diga defensor do amplo armamento da população em nome da autodefesa, ainda que admita que isso contribuiria para elevar o número de homicídios no país. A síntese seria mais ou menos esta: as liberdades individuais têm seu preço. Negar, no entanto, que a proliferação de armas tenha efeito na proliferação de mortos é um desses procedimentos que consistem em substituir a realidade dos fatos pela ideologia ou pela convicção sem lastro.

Ah, sim! O deputado também promete combater a pedofilia e o politicamente correto!

Ufa! Finalmente surge alguém com uma agenda para o Brasil!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.