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Reinaldo Azevedo

Câmara pode arquivar daqui a pouco tentativa descarada de golpe. Ou: Imprensa e salsichas

Reinaldo Azevedo

02/08/2017 09h34

Tudo o mais constante, a Câmara dos Deputados arquiva daqui a pouco a mais abusada tentativa de golpe de estado jamais desfechada no país. E não venham os vigaristas de esquerda falar no impeachment de Dilma: ela cometeu crime de responsabilidade e foi denunciada segundo a lei. O presidente Michel Temer foi alvo de uma operação ilegal envolvendo o Procurador Geral da República, um megaempresário picareta, achado a dedo e devidamente chantageado para denunciar o que queriam que denunciasse e setores do Supremo infiltrados por interesses outros que não a lei: num caso, falou a ideologia: em outros, o medo do próprio passado.

E assim se tentou derrubar Temer, ainda que o senhor Rodrigo Janot, nesta que ele sugeriu ser a "primeira etapa" de sua saga, não tenha apresentado a prova. Isto mesmo: ousou-se depor o chefe do Poder Executivo com base em conjecturas oriundas de um flagrante armado. Contente-se com a patuscada quem quiser. Por aqui, nunca passou nem passará. Convenham: por aqui, nem mesmo Lula, o arquiteto do petismo, protagonista do grande assalto ao Estado e ao Estado de Direito, é condenado sem provas.

Quem tem vergonha na cara, seja jornalista, artista ou um cidadão qualquer, exige que o ente acusador demonstre o que diz. E isso só pode ser feito com as tais provas. Mas Janot, o insaciável, sabemos, pretende voltar ao ponto mais adiante por intermédio de acólitos: vamos ver se a próxima pistola contra Temer vem na forma de acusações de Eduardo Cunha, de Lúcio Funaro ou de ambos. O país, a julgar pelo noticiário de certa imprensa, ficou a um passo de se entregar ao cutelo e ao moedor de carne de Joesley Batista, o ex-maior salafrário do Brasil, absolvido pela beatitude de Janot, este santo homem, capaz de julgar os vivos e os mortos.

É claro que setores da imprensa fizeram o serviço sujo. Nesse caso, consiste em quê? Bem, cada um executou sua tarefa de acordo com seu talento específico. Houve aqueles que se esmeraram em reconhecer que não há provas contra Temer, mas que aquela conversa com Joesley já seria o suficiente para depor o presidente. É mesmo? Não sei se lembram: o açougueiro de instituições disse lá que tinha no bolso um procurador e dois juízes. Sabemos quem é o procurador acusado pelo MPF, ente que se orgulha de ter cortado na própria carne, como se estivéssemos numa saga corporativista. Mas cadê os dois juízes? Joesley disse que estava apenas brincando.

De fato, parece uma piada.

"Oh, mas como Temer ousa receber alguém como Joesley no fim da noite?" A pergunta é de um falso moralismo canalha. Quem não receberia? Fica fácil falar agora, depois de tudo o que se sabe. Aliás, aconselho aos senhores jornalistas que, doravante, só passem a tratar de política com os santos, com quem nada deve e de quem nada se diz de ruim. Lembro que a todo cidadão socorre a competência de dar voz de prisão a criminosos ou de chamar a Polícia — e isso inclui jornalistas… Já imaginaram? Dado o que se lê de teoria política na imprensa, muitos teriam de pedir emprego a Joesley, como fazedores de salsichas. "Ah, mas nós falamos com marginais em nome do interesse público…"  Bem, cara pálida, cada ofício tem a sua desculpa.

E, claro!, vimos os esquerdistas de sempre, que ainda tentam se vingar do impeachment de Dilma, que mal disfarçam a estrela que trazem da testa, e a direita aborrecida, refém do moralismo brucutu — que é, já disse, o túmulo da moral e a Disneylândia dos idiotas — a gritar também o "Fora, Temer!" Os "vermelhos" pedem "diretas já", como se fosse corriqueira a tarefa de encurtar o mandato de um presidente, de 27 governadores, de 513 deputados federais, de 1.059 deputados estaduais e de 54 senadores… Já os direitistas, perdidos na indigência intelectual, ensaiaram a saída Rodrigo Maia, como se este acenasse com uma governabilidade que Temer teria perdido; como se não fosse ele próprio o próximo alvo.

Assim como o povo demonstrou uma sabedoria prática indo às ruas contra Dilma, exibiu-a uma vez mais não indo contra Temer. Afinal, só "ozartistas" de Caetano Veloso e os hipócritas, mentirosos de esquerda e nefelibatas de direita da imprensa embarcam numa aventura para depor um presidente sem dizer o que vem depois.

Se a palhaçada de Janot não terminar nesta quarta, termina logo mais. O país tem mais o que fazer. Tenham um pouco mais de respeito pelos pobres, senhores golpistas!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.