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Reinaldo Azevedo

Cavalo de Troia 1: Barroso pinta a cara de verde e amarelo para fazer avançar a agenda vermelha

Reinaldo Azevedo

22/11/2017 14h53

Barroso: antes dele, a toga nunca foi tão atrevida. E sua agenda de esquerda vai longe, com o apoio dos trouxas de direita

Roberto Barroso gosta de legislar.

Roberto Barroso não se conforma apenas com os poderes imensos que aquela toga já lhe confere.

Roberto Barroso gosta de usar a sua posição de "Um dos Onze" da República para pôr em prática suas ideias exóticas sobre direito.

Roberto Barroso ousa usar as prerrogativas da cadeira em que está para usurpar atribuições do Poder que lhe concedeu aquele status.

Roberto Barroso instrumentaliza a toga, sem medo de ser feliz, para impor ao país uma agenda ideológica.

E Roberto Barroso — e isto não é nem por seu mérito ou por sua esperteza — pertence àquela elite de esquerdistas cariocas com vista para o mar que tem uma agenda de esquerdização dos costumes e das políticas do Estado, mas que conta, ora vejam!, com o apoio da direita e da extrema-direita.

Sim, isso fala da inteligência e da capacidade de análise da direita e da extrema-direita.

O pensamento de Barroso — vale dizer: o conjunto de valores e práticas de que é usuário, formulador e caudatário — está, por exemplo, plenamente traduzido na Lava Jato. Conduziu a política brasileira ao buraco em que está. Fez de Lula o candidato favorito. Fragmentou o campo centrista. Criminalizou a política. Deixou o país à beira de se ajoelhar no altar de um salvador da pátria.

Explico tudo.

Peguem todos os temas sobre os quais o STF decidiu agir como legislador. Em todos os casos, sem exceção, ou ele é o porta-voz da causa, como advogado, ou seu principal patrocinador ou entusiasta: união civil gay (advogado), aborto (porta-voz), medidas cautelares para parlamentares (porta-voz), cotas raciais (entusiasta), fim do financiamento público de campanha (advogado, porta-voz e entusiasta). E não pensem que a agenda dele acabou, não.

Um de seus objetivos é usar a Constituição como instrumento para legalizar as drogas. Notem: todos esses temas sobre os quais o Supremo deliberou não passariam com facilidade pelo Congresso — ou não seriam aprovados de jeito nenhum. Então o que fazer? Ora, por que não dizer que a Constituição consagra, nos seus valores abstratos, aquilo que se quer pôr goela abaixo da sociedade, queira ela ou não?

É o caso do aborto. Numa ação absurda, escandalosa, inacreditável mesmo, o doutor usou a concessão de um simples habeas corpus para excluir o crime de aborto volitivo praticado até o terceiro mês de gestação.

A lei brasileira trata das hipóteses de exclusão de crime na prática de aborto no Artigo 128 do Código Penal. Não é crime em caso de estupro e risco de morte da mãe. Mudar esse texto é tarefa do Congresso. Não quando Barroso está na área. Ele tem um país na cabeça, uma Constituição na cabeça, um povo na cabeça. E usa os instrumentos que lhe fornecem o país, a Constituição e o povo para, se preciso, atuar contra a sua vontade.

Doutor Barroso é um cavalo de Troia da esquerda que foi recolhido pelos trouxas e xucros do conservadorismo.

Em recente bate-boca com o ministro Gilmar Mendes, depois de o advogado do terrorista Cesare Battisti ter se abespinhado com críticas feitas ao Estado miserável em que se encontram as finanças do Rio — reação bairrista e despropositada —, a direita que ronca e fuça nas redes sociais o tratou como herói.

Afinal, ele atacava Mendes, não é? E o fazia do modo intelectualmente mais desonesto: demonizando o habeas corpus. Os idiotas aplaudiram com entusiasmo o ministro vermelho que se fingia de verde e amarelo para poder, de novo, fazer avançar a sua agenda.

Afinal, ele é um cavalo de Troia.

E, agora, chegou a vez de legislar sobre o foro especial por prerrogativa de função.

Leiam mais no post seguinte.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.