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Reinaldo Azevedo

Célio Borja e uma entrevista importante: as ONGs, a democracia, a esquerda e a representação do indivíduo

Reinaldo Azevedo

23/02/2017 22h10

Não deixem de ler no Estadão deste domingo uma das melhores entrevistas publicadas na imprensa brasileira nos últimos tempos. Gabriel Manzano Filho conversa com o ex-ministro da Justiça Célio Borja, uma das maiores inteligências do Brasil, infelizmente fora da vida pública. Informa o jornal: "Na série que inicia hoje, o Estado trará, aos domingos, as mais significativas idéias de alguns desses pensadores sobre o tema." É um alento. Reproduzo abaixo um trecho que me parece muito significativo. Há dias, este blog comentava o efeito deletério que as tais ONGs exercem na democracia. É bom saber que não estou só. E ele também toca numa questão importante: a esquerda mudou o caráter essencial do regime democrático, que é representar os indivíduos.
"(…)
O senhor falou em várias transformações [da democracia]. Quais as outras?
Outra, fundamental, é esta nova realidade da democracia participativa. A participação pelo voto está cedendo lugar ao exercício direto da democracia. Não com plebiscitos ou referendos, mas através de ONGs, lobbies e outros recursos. Eles nascem na sociedade, mas não em nome dela. Seu projeto não é conduzir, mas provocar a administração. Nem sempre está claro quem ou o que representam. Há casos como o do MST, que é puro banditismo político.

Os problemas da democracia vêm de longe. Estudiosos, como Norberto Bobbio, apontam a persistência das oligarquias, o fracasso em controlar o poder financeiro, a corrupção. O sr. acha que as instituições democráticas perdem força?
Acho. Um dos pontos relevantes é a questão dos partidos. Num primeiro momento, o partido era um órgão de representação do cidadão. Depois, tornou-se órgão do Estado, reduzido a uma repartição pública. Por que isso aconteceu? Historicamente, a grande responsável foi a esquerda, que imaginou uma representação que não pertencia a nenhum indivíduo, mas falava em nome do povo, em geral. Assim, já não se pode dizer que o voto é um direito individual. Sumiu do mapa a idéia original de um Parlamento que representava pessoas – que no início eram convocadas por um monarca, e depois indicadas pelos eleitores. As democracias mantiveram as formas jurídicas, mas se manifestam por partidos que são burocracias. O partido é um cartório, que se expressa, sobretudo, no voto em lista. Assim o voto nas eleições não é mais individual. Quem concorre é o partido, que não representa mais os eleitores."
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.