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Reinaldo Azevedo

Com fundo, eleição de 18 já seria a mais criminosa da história; sem ele, caos. Resolvi fazer conta

Reinaldo Azevedo

24/08/2017 17h05

Nem financiamento público nem financiamento privado para as eleições de 2018. Que tal?

Ah, que maravilha!

Como costumo dizer, viva o moralismo, que é o túmulo da moral!

Os deputados estão com medinho!

Os senadores estão com medinho!

Assim, que as eleições de 2018 fiquem entregues aos idiotas, aos criminosos e aos oportunistas.

Viva Luiz Fux!

Viva Roberto Barroso!

Não! Eles não são idiotas. Não são, até onde sei, criminosos. Mas talvez façam o Brasil pagar caro por seu oportunismo. Foram os dois ministros a promover no Supremo a proibição da doação de empresas privadas a campanhas.

Luiz Fux até andou flertando com uma mudança de posição. Mas não Barroso! Oh, não! O homem que concede entrevista a Pedro Bial para fazer futrica contra outro ministro esqueceu de se lembrar que foi ele, quando advogado, o autor da Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a doação de empresas — votada no Supremo quando ele já era ministro. E ele se declarou impedido? Ora, claro que não!

Ele continua contra a doação de empresas privadas. É que Barrosão tem teses sobre o Brasil. Em vez de se candidatar para defendê-las na Câmara ou no Senado, ele prefere ser legislador eleito por ninguém.

Viva a OAB, que promoveu a patuscada!

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), advertiu neta quinta que há o risco de tudo ficar como está na legislação eleitoral no que diz respeito ao financiamento — as doações hoje só são permitidas a pessoas físicas — e ao sistema de representação, que hoje é proporcional: é o glorioso sistema que permite que os votos de um deputado elejam, sei lá, dois ou três. Um Tiririca acaba valendo por uns mais dois outros palhaços sem voto.

Ora, não é o que gritam os moralistas de direita? "Não queremos mais dinheiro público para os políticos!"

Ora, não é o que gritam os oportunistas de esquerda? "Não queremos dinheiro das empresas em campanha!"

Ora, não é o que gritam em silêncio os representantes do crime organizado? "Não queremos nem dinheiro público nem de empresas em campanhas. Deixem com a gente!"

Por que o moralismo é o túmulo da moral? Por que ele mata aquilo que diz proteger: a decência!

Vamos fazer o que ministros do Supremo não estão fazendo.

Vamos fazer o que a imprensa não está fazendo.

Vamos fazer o que os deputados não estão fazendo.

Vamos fazer o que os senadores não estão fazendo.

Sabem quantos candidatos, considerando-se todas as disputas, houve em 2014? 25.172. Neste ano, pode chegar perto de 30 mil.

Digamos que o fundo para financiar eleições fosse mesmo de R$ 3,6 bilhões. E os inocentes ou vigaristas gritam: "É muito dinheiro!" É mesmo?

Faça uma divisão simples, leitor. Pegue esse dinheiro e divida pelo número de candidatos não deste ano, mas de 2014. Dariam R$ 143 mil per capita. Mas claro que essa é uma conta burra. A fórmula da divisão entre os partidos ainda não é conhecida. Mas dificilmente sobraria mais do que um terço para ser distribuído entre os candidatos a deputados federal e estadual. Então peguemos esse número: na eleição de há quatro anos, houve 7.018 pessoas que disputaram a Câmara Federal e 17.795 que buscaram um lugar na Assembleia. Ao todo: 24.803 pessoas.

Se sobrar para essas candidaturas um terço do fundo, como se estima, teremos, então, de dividir entre eles R$ 1,2 bilhão. Sabem quanto dá per capita? A soma fabulosa de R$ 48.381. Sabem a que se elege uma pessoa com esse dinheiro? Huuummm… Deixem-me ver: talvez vereador de Nheco-Nheco do Sul, que é vizinho da Ponta do Pavio, lá no Estado do Catete. Não sabem onde é? Pense um pouco… Quanto o ministro Gilmar Mendes afirmou tratar-se de pouco dinheiro, a canalhada resolveu atacá-lo. Ninguém é tão convicto como um energúmero.

O que quero dizer? Mesmo com o fundo de R$ 3,6 bilhões, as eleições vindouras já seriam, de saída, as mais criminosas da história; aquelas em que o caixa dois realmente botaria para quebrar.

Aí dirá o idiota: "Ah, se é assim, então que se não se dê dinheiro nenhum mesmo…" Bem, o moralista, como um bom representante do mundo dos mortos da moral, escolhe sempre, entre duas alternativas, a pior.

Viva Luiz Fux!

Viva Roberto Barroso!

Viva o moralismo xucro da direita!

Viva o oportunismo xucro das esquerdas!

Viva a OAB!

Marcola, o Comando Vermelho, a Família do Norte, os contraventores e os representantes de seitas mais novas do que o uísque eu bebo lhes são gratos.

Vocês são o passaporte de que eles precisavam para chegar ao poder!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.