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Reinaldo Azevedo

Delação tem de ser anulada; caso deve ir para 1ª instância; Joesley, Saud e Miller têm de ser presos

Reinaldo Azevedo

05/09/2017 16h01

O que o ministro Edson Fachin, do Supremo, está esperando para provocar os seus confrades? Não há ambiguidade ou interpretação alternativa possível. Ele tem de convocar os seus pares e encaminhar pura e simplesmente a anulação do acordo de delação premiada. Se as provas serão também anuladas, isso se vai ver. É o que diz a lei. Tudo o que emana desse acordo espúrio é, por óbvio, imprestável.

Feito isso, o senhor Joesley Batista e o resto da bandidagem são matéria para a primeira instância. E, então, vamos tentar entender a natureza do crime que se está confessando ali.

Vamos ver o que é que o sr. Joesley está combinando com o seu braço direito, o homem da mala, aquele que criou todas as circunstâncias para fabricar o que pretendem ser um flagrante a ser usado contra o presidente da República.

Não há ambiguidade possível no que diz Joesley. Segundo ele, a Odebrecht já havia liquidado com o Congresso. A seu grupo, sustenta o açougueiro, cumpre destruir o Supremo. E como farão isso? Bem, um dos instrumentos seria, ora que coisa!, José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça. Este teria no bolso alguns ministros do Supremo, né?

E pronto! E estaria tudo dominado. Quem iria se encarregar de operar essas coisas todas? Ora, o braço direito de Rodrigo Janot, Marcelo Miller, aquele que depois foi trabalhar oficialmente para a JBS no acordo de leniência, sobre quem o ínclito Janot chegou a emitir uma nota, lembram-se? Segundo disse no dia 20 de maio, o senhor Miller não tinha tido atuação nenhuma na delação premiada. Teria se limitado a participar do acordo de leniência.

Não fossem as trapalhadas do açougueiro de casaca, as coisas teriam ficado por isso mesmo. E, a esta altura, o senhor Rodrigo Janot estaria flanando nas denúncias feitas por outro patriota, Lúcio Funaro

Vejo o que andam a escrever alguns coleguinhas meus. Sinto certo constrangimento. As pessoas deveriam ter um mínimo de vergonha na cara e arcar com o peso de suas escolhas, ainda que tenham de dizer: "Errei!" Mas não! Os valentes decidiram agora que a operação não pode morrer.

É claro que não! Por que morreria? Ela tem de viver, de acordo com as regras, de acordo coma as leis, de acordo com o Estado de Direito. E é isso o que se pediu desde sempre.

Acontece, meus caros, que é preciso que prestemos atenção à gravidade da conversa de Joesley Batista com seu homem da mala. Ali, sim, está a mais descarada confissão de que estão organizados para obstruir a investigação. Não! Esperem! Joesley confessa, na verdade, um plano para obstruir o país. O que ele combina com Ricardo Saud é a destruição de um Poderes da República. E de que modo? Fica evidente que considera possível chantageá-lo. E, contam para tanto, com José Eduardo Cardozo, que tratam, como se vê lá, como alguém fraco e manipulável, mas com influência no Supremo.

E é por isso que esses senhores têm de ter a prisão preventiva decretada. Resta evidente que estão recorrendo a um instrumento de estado — o estatuto da delação premiada — para, por intermédio de um procurador que está a praticar ilegalidade, interferir nos destinos do Supremo Tribunal Federal. E a dupla ainda comemora aquele que seria o seu grande feito.

Segundo alguns pilantras que estão por aí, Rodrigo Janot sairia fortalecido desse episódio. É mesmo? Fortalecido por quê? Quem foi que deu a Joesley Batista e a Ricardo Saud tanto poder? Quem foi que lhes garantiu a impunidade para que pudessem dizer o que lhes desse na telha? Quem foi que os tratou como aqueles que tinham nas mãos os arcanos da República?

Ah, como é que a gente vai esquecer, não é?

O que dizia mesmo Janot sobre Joesley, em entrevista à Folha, no dia 7 de agosto? Eu lembro:
Se houve erro, foi de comunicação. Vamos lembrar. Recebo comunicado de que empresários relatariam com provas a prática de crime em curso do presidente, de um senador (Aécio Neves) que teve 50 milhões de votos na última eleição e seria virtualmente o novo presidente, de um deputado e de um colega [procurador] infiltrado na nossa instituição. Eles dizem: "A gente negocia tudo, menos a imunidade". A opção que tinha era: sabendo desse fato e não podendo investigar sem que colaborassem, teria que deixar que isso continuasse acontecendo ou conceder a imunidade. E mais: essas pessoas não só nos levaram áudios lícitos e válidos que comprovavam o que diziam. Elas se comprometeram a fazer ações controladas. Assumiram risco de fazer ações sem ter o acordo, e produziram prova judicial -a da mala do presidente, a da mala do senador, a da conversa do meu colega infiltrado-, e eu [ia] dizer assim: "Isso é muito pouco, eu quero que vocês tenham prisão domiciliar com tornozeleira.

Eis aí… Para ter uma acusação contra o presidente da República, o sr. Rodrigo Janot aceitou entregar tudo, inclusive a honra.

Também o procurador-geral terá de pagar o devido preço, não? Até porque essa porcaria toda não está por aí à-toa. Foi preciso que o procurador-geral desrespeitasse todos os protocolos de atuação, inclusive na relação com a Polícia Federal, para produzir tanta miséria institucional.

A propósito: o que fez Janot mudar tanto em um mês? Simples! A PF botou a mão na sujeirada de Joesley e amigos. E ela alvejava o coração de Janot. Ele se antecipou. O preço de mais essa prevaricação poderia ser a cadeia.

A propósito: o sr. Marcelo Miller passa ileso por essa? Acho que não, né? Parece que há uma outra prisão preventiva se adensando no horizonte.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.